Pedro Igor 02/01/2018
Uma experiência espiritual
A obra cobre todas as facetas da vida de Einstein, sendo que o autor teve acesso a cartas até então desconhecidas do público, só esse fato já faz dessa biografia a mais completa sobre a vida do grande cientista.
Dotado de um senso engajado de justiça, responsabilidade social, e um profundo entendimento da espiritualidade. Gostava de boas companias, adorava participar de grupos para tocar instrumentos, discutir ideias, tomar café preto e fumar charutos fortes. Teve diversas mulheres, problemas com filhos, problemas de desemprego, empregos ruins, estresse do cotidiano por coisas fúteis, saúde frágil por conta da rotina auto-imposta de trabalho, etc. Era uma pessoa como qualquer outra, pelo menos do ponto de vista de uma pessoa que o via pessoalmente, por que por detrás dessa máscara de pessoa comum havia um mago. Conseguia enchegar o âmago das pessoas, da natureza, o propósito da vida mesmo, admirando e criticando quase tudo que o cercava como uma obra de arte, tinha uma grande paixão pela vida. Estranhamente constrastava com sua pronunciada falta de necessidade de contato direto com outros seres humanos e com comunidades, se dizendo um "Viajante Solitário", que nunca pertenceu realmente, de todo coração, a seu país, a sua casa, a seus amigos, e nem sequer a seus familiares mais próximos: diante dessas relações, jamais perdeu o senso de distanciamento e a necessidade de solidão. Seus amigos diziam que seu coração jamais sofria, e ele avançava pela vida com alegria discreta e indiferença emocional. A bondade e a decência extremas dele eram profundamente impessoais e pareciam vir de outro planeta. Ele mantinha essa aura mesmo tendo passado pelo caos que a Europa passou durante as duas grandes guerras mundiais, o difícil período do antissemitismo, a grande crise inflacionária que a Alemanha passou após o criminosos Tratado de Versalhes e o surgimento do Movimento Nazista. Ele sempre esteve completamente desligado do ambiente em que vivia e dos seres humanos que faziam parte deste. Esse desprendimento pessoal e a criatividade científica tinham aparentemente uma ligação sútil. Por conta disso ele era rebelde, pois sempre procurava rejeitar o conhecimento científico tradicional bem como a intimidade emocional. O desprendimento permitiu-lhe viver mergulhado nos pensamentos, desenvolvendo suas teorias de forma determinada e sem assistência.
É importante salientar que por nenhum momento Einstein perdeu o seu foco, se tem uma coisa que se sobressaía a sua capacidade e conhecimentos nas ciência física/matemática, era seu foco, sua explêndida concentração, que não perdia um minuto sequer, por mais adverso que fosse o problema que tivesse enfrentando, a linearidade do raciocínio para resolver os problemas científicos que o alçaram para imortalidade dos gênios da humanidade. Sem dúvida alguma ele nasceu com o propósito de fazer o que fez, mas seu talento foi constantemente desenvolvido através de um trabalho árduo e muita confiança e foco no que estava fazendo. A biografia que Isaacson escreveu tem o mérito de esmiuçar o processo criativo do poeta da ciência, é realmente brilhante sua abordagem do tema, explicando de forma muito clara a Teoria da Relatividade,o Efeito Fotoelétrico e suas "batalhas" contra a Mecânica Quântica, sua busca incessante pela Teoria do Tudo (Teoria do Campo Unificado), dentre outros, me lembrando a excelente técnica de Richard Feynman de explicar conceitos difíceis de forma simples, fazendo que você não precise ser um expert em física para compreender as ideias. É de destacar também sua percepção, captando nuances do cotidiano de Einstein que torna a história uma delícia de ler, com isso a leitura em nenhum momento se tornou cansativa.
Entender sobre a vida do mestre me causou vários estranhamentos, pois nossos modos de levar a vida e os ideais são incrivelmente parecidos, fazendo dessa experiência de ler essa obra, algo espiritual. Não sei se vai ter o mesmo efeito para vocês, mas desejo que sim. Se deliciem com essa biografia, simplesmente a mais completa.