Tuca 08/07/2020Pode conter spoilers do primeiro livro
“Você está prestes a renascer milhares de vezes em bibliotecas, nos sonhos de milhares que lerão sobre sua vida: suas alegrias, conquistas, derrotas, tristezas e, sobretudo, sobre sua morte. E você vai viver depois de mim. Então, você me levaria através do tempo e me daria vida?”
Essa é uma história que desde as primeiras linhas eu desejei que fosse eterna, que não tivesse fim, que eu pudesse ficar presa nas palavras de Nermin. E talvez tenha sido com esse sentimento de infinitude que a autora decidiu escrever a história de seus avós. A combinação do seu dom de escrever com a emocional biografia de sua família tornam esse livro e a saga, únicos. Entretanto, Kurt seyt & Murka é um livro muito mais emocionalmente desgastante do que Kurt Seyt & Shura, e eu o conclui esgotada.
Enquanto em Kurt seyt & Shura, há uma paixão avassaladora; Kurt seyt & Murka é uma trama sobre a construção de um casamento de pessoas com criações, ânsias e entendimentos de mundo diferentes e sobre a consolidação de uma família (ou de várias). Apesar da escrita da Nermin permanecer a mesma, nesse livro eu tive dificuldades em compreender as passagens de tempo. Não lembro se isso ocorreu no romance anterior e não percebi, ou se foi algo do atual.
Assim como em Kurt Seyt & Shura, há um fundo histórico interessante e mais curioso porque pouco sabia sobre o passado da Turquia. Porém isso é uma porcentagem do enredo bem menor quando comparado com o primeiro livro. Com menos ação, considerei uma trama mais trágica, cheias de altos e baixos, de vidas extremamente sofridas. Consegui entender melhor Seyt e encontrar características que me permitiram admira-lo. O mesmo infelizmente não pode ser dito de Murka, por quem eu senti uma certa empatia em alguns momentos, porque Seyt não era flor que se cheirasse, porém chega um momento em que nada justifica suas atitudes, principalmente a pior de todas elas, no final do livro, o que enquanto acontecimento real tornou essa conclusão bastante dolorosa.
Não tem como acabar essa história e não querer desesperadamente ler “Noiva da Guerra”, cujo foco é a vida de Leman , a filha mais velha de Seyt e Murka (e mãe de Nermin). Ainda mais por que um dos ápices desse romance é o relacionamento entre pai e filha. Seus momentos doces e seu companheirismo eram uma troca linda, e permitia a Seyt liberar um pouco de sua solidão de uma forma positiva.
A dor do exílio entra na trama como protagonista também. A saudade da língua, dos costumes, da cultura, da família, dos amigos, de Alushta... de Shura. Tudo é sentido profundamente por Seyt. Tudo foi sentido intensamente por mim.
“Ele se sentiu exausto. Sim, não era apenas um grande amor que ele perdia; seu passado, sonhos que ele não podia alcançar, e sua cidade natal que ele não podia mais voltar. Sua família, amigos, tudo o que nunca mais poderia ver.”
O relato de um casamento, que além de todas as dificuldades comuns ainda lida com a guerra, contado de forma crua, dura e real. Mesmo Nermin sendo neta deles, ela narrou uma história claramente sincera, sem idealizar nenhum dos dois, e acredito que apenas com essa sinceridade que podemos ter chegado perto de realmente conhecer quem foram Kurt seyt & Murka.
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