elske 25/12/2023
A felicidade está na cidade ou nas serras?
Um livro muito engraçado, com muito humor e ironia. Há essencialmente dois personagens principais: Jacinto, o Príncipe, herdeiro de um grande patrimônio de dinheiro e de terras, e seu melhor amigo Zé Fernandes, o narrador, que funciona como um representante do "bom senso" perante as ideias exóticas do seu companheiro. Ambos são portugueses. A história se desenrola primeiro em Paris, onde Jacinto sempre viveu, num apartamento de luxo, com as melhores tecnologias da "Civilização". Ele busca sempre as novidades, os objetos mais modernos, tudo para poder ter uma vida melhor e mais próxima do ideal de Civilização e Cidade, alcançando assim a felicidade. Todavia, está sempre insatisfeito: os utensílios, aparelhos, objetos moderníssimos que está constantemente adquirindo e repondo nunca lhe dão a felicidade esperada. Ao contrário, toda essa tecnologia o decepciona, não lhe satisfaz, e às vezes não funciona; assim, em Paris Jacinto tem um humor ruim, deprimido, anda curvado e melancólico, mas sempre procurando alguma grande novidade que vai poder alegrá-lo. Ele é sempre acompanhado por Zé Fernandes, que, ainda que também more em Paris, conhece como é a vida no interior de Portugal, na "serra", para onde Jacinto nunca foi. Tudo muda quando Jacinto recebe carta de sua propriedade principal, Tormes, no interior de Portugal: houve um deslizamento de terra, fazendo ruir a capela onde estavam enterrados os ossos dos ancestrais de Jacinto, nobres fidalgos. Era necessário, pois, juntar os ossos novamente, e dar-lhes novo enterro digno. Isso fez com que Jacinto tivesse vontade de ir, pela primeira vez, às suas terras em Portugal. Assim vai, acompanhado de seu companheiro Zé Fernandes, e vai tendo vários "choques de realidade", de homem da Cidade, vivendo no luxo extremo, que de repente conhece uma outra vida, na serra. Os episódios vividos por Jacinto são narrados com ironia e humor por Zé Fernandes, representante do bom senso perante as ideias teimosas e distantes da realidade de seu amigo Jacinto. Jacinto lembra um pouco o nosso Policarpo Quaresma, na grande imaginação e obstinação. É um livro que dá vontade de saber o final da história. Ainda assim, não foi uma leitura exatamente fácil, pois contém um vocabulário com o qual estou poucos acostumado; além disso, parece que a história teve uma introdução bastante longa, sendo que os grandes acontecimentos (a ida para Tormes) começam apenas na metade do livro. Ainda assim, há várias passagens muito divertidas, pois todo o livro é escrito com humor e ironia: o narrador Zé Fernandes é autêntico e bem-humorado, e Jacinto é um personagem simpático.