CrisIngrid 17/04/2021
"Não inventemos maravilhas de abnegação. Era de mulher o coração de Marianna."
Duas famílias que se odeiam, dois jovens que se amam profundamente. Um amor proibido que não é suficiente para aplacar o ódio entre as famílias. E todos pagam um alto preço. Onde já ouvimos isso mesmo?
Mas aqui peço licença ao meu estimado Shakespeare para de dizer que a obra lusitana é bem mais emocionante. Talvez por ser um romance e não uma peça teatral e, por isso, ter mais tempo para trabalhar toda a questão.
Seja como for, "Amor de Perdição"(1862) me pegou completamente desprevenida, com as minhas guardas baixas, e quando me dei por mim, estava chorando de soluçar com as cartas de Thereza de Albuquerque e Simão de Botelho. Impossível não torcer pelo casal principal! Mas e a Marianna, gente? Merecia muuuuito mais. Sofreu e amou calada, engoliu o seu ciúme e a sua raiva, tudo para ajudar o seu amado Simão a ter pequenos momentos de felicidade, ainda que não fosse com ela. Foi incrível o amor que ela demonstrou, talvez a máxima do amor romanesco.
Absolutamente tudo nesta obra me comoveu. Desde a certeza do casal apaixonado de que valia tudo suportar em prol do amor que sentiam até à perspicácia de João da Cruz, sua sabedoria de vida, típica de alguém que já passou por maus bocados e aprendeu a fazer aquilo que precisa ser feito. Um personagem realista em meio ao romantismo.
Contudo, não se enganem! O amor professado aqui é visto hoje como piegas. Pior que novela mexicana, alguns diriam. E não é pra menos, né? Estamos falando de uma obra do Romantismo, da fase ultrarromântica, o momento dos românticos descabelados, esparramados, fatalmente exagerados em sensibilidade. É por isso que "Amor de Perdição" possui cenas capazes de fazer o leitor romântico se desfazer em lágrimas e o leitor realista se desmanchar em gargalhadas.
Piegas ou não, essa obra me tocou muitíssimo. Até os personagens que odiei, odiei com fervor. Meu coração ainda está em carne viva. Uma coisa ficou evidente para essa leitora aqui: os efeitos que as obras do Romantismo exercem sobre mim são imprevisíveis.
Um amor de perdição. Um amor pelo qual todos se perderam.