Crônicas Fantásticas 15/09/2020
Noir Carnavalesco
Resenha por Brena Gentil
Título: Noir Carnavalesco | Autor: Ian Fraser| Editora: Pyro | Gênero: ficção, noir, literatura brasileira| Nota: 5,0 / 5,0
“Se Sodoma e Gomorra tombaram com fogo e enxofre, aqui, meu louro, as belas e as feras dançam requebrando até o chão e o juízo final é banhado com pequenos pedaços de papel reciclado.”
Noir Carnavalesco é uma história de investigação em pleno carnaval. Num mundo em que convivemos com boitatá, pisadeira, loira do banheiro, curupira, etc, quem pode ser melhor que um boto para bancar o detetive?
1994, o tecido da realidade se dissipou e os seres folclóricos do mundo oculto passaram a coexistir com os humanos. Ao advento da constituição de 97, os pajelantes passaram a ser tratados como cidadãos com RG e CNH e tiveram que se submeter a nossas leis e restrições.
2017, Bartolomeu Osório é um boto que agora mora em Salvador, e até adota o jeitinho malandro e cheio de gírias e sotaque da terrinha. Ele abdicou de suas pajelanças, arrependido por seus atos de quando vivia em Manaus, mesmo assim se sente confiante para exercer a função de detetive especializado em casos relacionados a seus semelhantes. Para ajudá-lo em situações perigosas, conta com o amigo policial, Eduardo.
A amizade com Eduardo leva Bartolomeu ao caso que acompanharemos no livro: o sumiço de Verônica Marte, filha do Eduardo. Verônica é uma adolescente recatada, sem complicações aparentes, mas que tem fascínio pelos mitos folclóricos. Bartolomeu aceita investigar o desaparecimento da filha do Eduardo; ele jamais imaginaria que esse episódio está relacionado ao assassinato de um barba-ruiva que era deputado estadual da Bahia.
Durante essa aventura, narrada em primeira pessoa pelo Bartolomeu, vamos desvendar vários mistérios dos pajelantes. Mêmeu, para os mais íntimos, é um boto cheio de axé em si, sarcástico, irreverente e com seu próprio código moral; fazia tempo que eu não tinha um crush literário. Chamou-me a atenção como o Ian Fraser nos faz sentir próximos desse mundo que ele criou, principalmente nos diálogos, bastante verossímeis. Ele traçou um paralelo com a discriminação comum em nossa sociedade ao abordar a coexistência entre lenda e realidade. De forma sutil, sem atrapalhar toda a diversão e eloquência da leitura, a obra traz referências históricas, políticas e artísticas. Um caso relevante para mim é o do curupira motorista do UBER e do Urué dono de bar… que alternativas temos quando necessitamos recomeçar a vida do zero? Ser uma entidade mística é relevante quando se tem que viver sob as regras dos humanos?
O projeto de diagramação de Noir Carnavalesco está lindíssimo: os capítulos iniciam com trechos de músicas típicas da Bahia; as ilustrações, cartilhas e recortes jornalísticos tornam a leitura dinâmica. Além disso, o livro terá capa dura!
“Bem, pra falar a verdade mesmo, eu não me sinto nada péssimo. Mas bem que eu gostaria de me sentir. Fica melhor assim, não? Mais nobre, heroico. Tô é mais pra vilão de novela do que pra mocinho, acho. Talvez não vilão, se eu for honesto comigo mesmo, mas, com certeza, aqueles cafajestes que andam com os três últimos botões da camisa abertos, mostrando os pelos do peito. É, acho que é isso que eu sou: um Cigano Igor que sabe atuar. E ele era cafajeste? Não me lembro. Canastrão, pelo menos, eu sei que era.”
Quer conhecer mais Bartolomeu Osório e saber o resultado dessa empreitada? Apoie Noir Carnavalesco no Catarse e torne esse livro realidade. Lá você encontrará várias opções de apoio. Tem mimos para todos os gostos: cartaz, aviso de porta, postal, porta-copo, marcador de página. Tem também opções para levar junto o clássico “Os Salgueiros”, lançado pela Pyro Editora, e os volumes I e II da saga Araruama, as obras de maior sucesso do Ian Fraser. Clique aqui para ler a resenha que fiz de Araruama – O Livro das Raízes. Eu já apoiei outras campanhas do Ian e posso afirmar que ele faz tudo com muito carinho e dedicação. Se você ainda não conhece esse autor nacional, vale a pena pegar o pacotão. E tem mais?
Tem mais sim, meu rei. Se a campanha alcançar a segunda meta estendida, todos os apoiadores que escolheram livro físico irão receber um pôster do Saci feito por Will Chamorro!
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