spoiler visualizaronlyazombie 18/05/2024
Muito se debate sobre Frankenstein, ou o Prometeu Moderno, ser de fato ou não do gênero terror. A adaptação cinematográfica de 1931, com sua aura sombria, pode ter ajudado a solidificar essa imagem da obra.
Muitos, no entanto, classificariam o material literário como ficção cientifica.
Mas por que não ambos os gêneros?
O terror em "Frankenstein" não reside em descrições explícitas de horrores visuais, mas na inquietação psicológica, na ameaça constante de uma criatura de capacidades físicas sobre humanas a espreita.
Criatura, que se revelou para mim na leitura, de forma muito diferente do que eu imaginava. É na verdade uma figura trágica e multifacetada.
É dotada de intelecto aguçado e muito eloquente. Traços que contrastam com a aparência medonha fruto da junção de partes de corpos distintos e de enxertos, fazendo dele uma espécie de zumbi.
Ideia concebida pela autora a partir de discussões cientificadas da época, relacionadas a origem da vida. Como se se decifrando o homem este segredo ele seria capaz de reproduzir a centelha da vida transformando matéria inanimada em animada.
Além disso, "Frankenstein" explora temas profundos como o preconceito e a injustiça social, a complexa dinâmica entre criador e criatura, e a busca incessante por aceitação e compreensão. Abordar as relações humanas com muita sensibilidade e de maneira comovente.
Infelizmente uma parcela considerável dos leitores parece adepta de uma visão de mundo maniqueísta. E precisa atribuir a algum personagem do livro o status de monstro. Se não à criatura, que seja ao criador. Eu, por outro lado, sou da opinião que o mundo é muito mais complexo que isso e a obra de Shelley reflete isso.
Não vejo Victor como a figura egoísta como comumente é compreendido. Apesar de seus equívocos (que são inúmeros), seus esforços científicos e preocupações visavam o bem na humanidade. Tem valores morais muito bem estabelecidos e chega, mesmo que por somente um momento, a se compadecer com o relato das vivencias do "demônio" e o que o levou a tirar a vida de seu irmão caçula e, por consequência, de Justine.
E a criatura, apesar de sua aparência aterrorizante, não nasceu um monstro em essência, mas foi moldado pelas circunstâncias e pela rejeição que enfrentou.
O livro representa muito bem o período romântico em que foi escrito. O texto se dedica a enfatizar emoções intensas e descrever a sublimidade da natureza. Infelizmente ainda não tenho domínio o suficiente do Inglês para tê-lo lido no idioma original, mas a tradução fez com que eu me apaixonasse ainda mais pela língua portuguesa.