spoiler visualizarLarissa 27/04/2021
Basicamente um livro de história do Brasil
Que se confunde com a história do RJ como capital do império e, depois, capital da República. Assim, o autor vai e volta na história: hora parte mais pra história do Brasil país, hora aproxima a escala do RJ.
Sob o ângulo do RJ, o nascimento e expansão das milícias nasce da ausência de planejamento urbano por parte do Estado. Rio das Pedras começa com a expansão urbana desordenada para a zona oeste nos anos 70 a partir da Barra e dos bairros pobres do entorno construídos popularmente por quem trabalhou nas obras do urbanista Lúcio Costa. Portanto, a partir também da ausência de políticas de moradia.
Esta milícia se difere das milícias de CG e de Santa Cruz, também na Zona Oeste, que mesmo mais longe do Centro tinham uma ligação historica maior com o poder central e cuja primeira fonte de renda foram as cooperativas de vans.
A partir da lógica miliciana, segundo a qual a violência e o homicídio são necessários para o restabelecimento de uma ordem perdida e da imprevisibilidade causada por assaltos, roubos e demais crimes patrimoniais, é eleito Bolsonaro.
A "reconstrução de um patamar minimo do tecido social" pregada pela esquerda liberal enuncia o desejo de apenas determinado recorte da população, que efetivamente tem acesso a algum tipo de direito social e do que se assemelha a um estado democrático de direito e demais abstrações.
Para quem vive em territorio sitiado por milícia e/ou tráfico, há outra dimensão de subjetividade (e materialidade, porque o "bandido bom é bandido morto" é o mais real que há). Nesse contexto, apelar para um discurso legalista e em defesa da institucionalidade é de fazer rir, pois, para grande parcela da população, nunca houve tais coisas. Se torna até lógica a eleição de Bolsonaro, porque parte do mesmo lugar: o antissistema. A ditadura mal resolvida. A Constituição cidadã que nunca saiu do papel para a maioria da população. A ilegalidade. O moralismo hipócrita. A lei do mais forte.
Para sair desse buraco, que parece sem fundo, é preciso despertar no imaginário coletivo que há um horizonte possível além desse.