Sarah 15/09/2020Eu simplesmente amei muito esse livro.
Um livro sobre enxergar as pessoas mas não vê-las de fato. Apesar das cartas terem um conteúdo triste e serem contadas com um pesar por parte da autora (Rafaela), o livro como um todo é de uma sensibilidade incrível. Parece um simples desabafo sobre um amor antigo de escola e coisas que aconteceram na adolescência mas conforme o desenrolar a gente percebe que o livro tem muito mais camadas do que isso e trata de vários assuntos de forma muito delicada mesmo. O livro inteiro tem uma carga enorme de reflexão e nostalgia. É muito bom notar o esforço da autora para ser inclusiva de todas as formas e com todas as minorias mesmo as protagonistas sendo já de alguns grupos minoritários, Maria deixa claro que isso não é suficiente e inclui como personagens secundários outros grupos de pessoas.
Rafaela é uma personagem com a qual me identifiquei muito, é uma personagem complexa e bem construída. Podemos perceber de forma sutil mas ao mesmo tempo descarada as questões psicológicas mal resolvidas dela. É uma personagem muito humana, muito real, sem aquela ilusão de adolescente de livro perfeito que sabe de tudo e faz tudo certo, pelo contrário, ela erra muito e admite isso. O desenvolvimento das questões de sexualidade e afetividade dela foram muito bem feitos e eu não esperava menos da Maria, uma autora LGBT que tem esse tato e esse cuidado. Não fica especialmente claro a situação atual dessa personagem, que conta os fatos anos depois do seu acontecimento mas fica subentendido que ela não estaria bem e então estaria relembrando o passado e o histórico com Luísa.
Luísa muitas vezes deixa de ser o foco da história por conta das questões pessoais de Rafaela mas isso sempre é mostrado como algo digno de remorso.
Uma coisa que pra mim se torna muito notável é como Luísa tem problemas muito mais palpáveis (a morte da mãe, o pai abusivo, a tia desagradável com quem mora, gordofobia, racismo) e isso tem um peso significativo pra Rafaela, que não sofre com esses problemas mas que ainda sim se sente solitária e carente e a faz se questionar porque se sente assim se tem "tudo nas mãos". Isso me foi muito interessante porque transtornos mentais e sofrimento podem atingir de fato qualquer um e isso é bem retratado.
Esse livro me tocou muito, ele é profundo e muito bem escrito, o único defeito é que acaba!