Pandora 22/11/2021Ruth Guimarães Botelho foi uma poetisa, cronista, romancista, contista e tradutora brasileira. Nascida em Cachoeira Paulista, em 1920, especializou-se em folclore. Foi aluna de Mário de Andrade e membro da Academia Paulista de Letras. Você sabia? Eu, até então, não.
Segundo informações na quarta capa, “todas as histórias deste livro foram extraídas apenas de registros orais”. Sobre isso, nos diz Ruth: “quanto à linguagem, claro, recontei à minha moda. Sou portador. Sou caipira. Tenho direito.”
E que delícia de livro! Bem leve e fluido e cheio de significados. Algumas histórias podem ser contadas para crianças. Primeiro, Guimarães faz um mapeamento da região pesquisada e um apanhado rápido do folclore, culinária e do artesanato ameríndio. Depois vêm Os contos de Curumim assim divididos: I. Cosmogonia Tupi; II. Histórias etiológicas de bichos; III. Histórias de macaco; IV. Histórias de onça; V. Ciclo do jabuti; VI. Quatro histórias do Curupira; VII. A cobra-grande.
A autora faz uns paralelos sobre a simbologia dos animais, ao afirmar que “Como a Tartaruga do folclore negro, o Jabuti indígena é vagaroso, débil e calado, o que talvez justifique a sua forma de valentão e manhoso. Aparece como vingativo, o que vemos nas histórias em geral. Há um verdadeiro ciclo do Jabuti, com essas qualidades, embora saibamos todos que ele é inofensivo e jamais ataca. Entretanto, é por meio de contos do Jabuti que o ameríndio demonstra que acredita na prevalência da inteligência sobre a força.” Ela também nos explica que a onça não goza de boa reputação entre os índios: “em todos os contos em que aparece, o fracasso é dela. Ela simboliza a força bruta, cega, estúpida, violenta. Derrota-a a astúcia do coelho, do sapo, do macaco e do tatu, pequenos e ardilosos.”
Apesar de ter tido contato com lendas brasileiras não só na escola como em leituras posteriores, o que li aqui foi diferente de tudo: das versões do Curupira à explicação de como teria surgido a noite. Senti-me criança de novo e mais próxima da nossa verdadeira identidade, da nossa terra-mãe. Me vi rindo de jabuti enganando onça e se dizendo melhor dançarino que Fred Astaire! E o macaco, dissimulado e vida boa?
O projeto gráfico é de uma beleza que acrescenta! A capa é linda e agradável ao toque, com texto em relevo, o interior repleto de motivos étnicos, a escolha do verde como cor principal, a fonte super agradável…
Enfim… um livro todo maravilhoso.