ntayar 13/01/2021
QUESTÃO DE CLASSE
(Master Class)
Christina Dalcher
?É impossível saber o que você seria capaz de fazer para sair de um casamento de merda e dar às suas filhas uma chance de alcançar o sucesso?.
A narradora Elena tem duas filhas, Anne e Freddie, de 15 e 9 anos. Seu marido Malcolm é subsecretário do Departamento de Educação, e está apenas um grau abaixo do presidente. Malcolm criou um novo sistema de avaliação das crianças: o sistema de camadas e as notas Q.
O sistema Q é um quantificador que avalia o rendimento escolar e é recalculado mensalmente. De acordo com os resultados, as crianças são colocadas em tipos diferentes de escola. Não é possível escapar, pois existem leis que fazem as regras do sistema Q valerem.
Mas não são apenas as crianças, os adultos também são avaliados e dependendo dos resultados, podem ser demitidos e perdem algumas regalias. Elena, por exemplo, é professora e o rendimento de seus alunos reflete diretamente na sua ?nota?.
Anne sempre esteve entre as melhores, notas ótimas, participação nas atividades esportivas e orgulho para os pais. No entanto, não se pode dizer o mesmo de Freddie.
E a partir do mau rendimento da filha caçula, todos sofrerão algum tipo de prejuízo. A menos que...A menos que a criança seja removida para as Escolas Federais, no interior, onde permanecerão como internas em um ambiente rural. Segundo as autoridades, ali elas poderão expandir a mente e descobrir novos talentos.
Mas a realidade é outra.
?As crianças aparecem de manhã quando os ônibus chegam e depois no fim da tarde quando os ônibus retornam. Entram correndo em casa e se debruçam sobre os livros até o jantar.
A maioria é pálida, mesmo nos meses de verão.
Às vezes acho que toda a infância desapareceu?.
O pior de tudo é que as pessoas não se incomodavam, só não queriam que seus filhos estudassem junto com os perdedores, pouco importando o que acontecia nessas escolas especiais.
?Todo mundo queria algo novo, alguma solução, algum motivo para se sentir seguro com relação à sua pequena fatia da torta da raça humana em um país que testemunharia uma explosão populacional em mais uma geração?.
Elena não se conforma com isso. Ela nunca havia concordado com o rumo que as coisas tomaram, tolerou durante algum tempo porque, afinal, seu marido era o criador do sistema Q. Mas ela jamais permitiria que afastassem Freddie da família. E começa a arquitetar um plano de fuga, um jeito de escapar desse sistema, uma missão impossível.
O mais incrível nessa história, é o que a autora escreve no posfácio: os personagens são fictícios. Já os acontecimentos históricos mencionados são muito verdadeiros.
Gostei muito desse livro. Faz lembrar aquela observação antiga de que você coloca um caranguejo ou um sapo numa panela de água fria e leva ao fogo. Os animais vão se adaptando à elevação gradativa da temperatura até que a água começa a ferver. Aí é tarde demais, não há como escapar. Assim se sentiram os personagens, achando tudo muito natural e organizado, não percebendo como o sistema ia envolvendo as pessoas, as famílias e até mesmo os que estavam por nascer.
Foi meu primeiro contato com a autora, e fiquei com boa impressão.
?Pense nisso como uma espécie de colônia de férias?.