Ruas 21/03/2015
Um livro para se ler com medo
Em “Assalto ao Poder”, Carlos Amorim finaliza a trilogia que iniciou ainda em 1994, com seu “Comando Vermelho – A história do crime organizado”, o qual foi agraciado com o prêmio Jabuti naquele mesmo ano, na categoria reportagem.
Trata-se de finalização de um ciclo de pesquisas e estudos de mais de 25 anos, desenvolvidos pelo jornalista que se debruçou nas raízes das principais organizações criminosas no país – Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital -, trazendo ao grande público a oportunidade de conhecer mais de perto as engrenagens de um mundo paralelo e impiedoso.
Tais organizações criminosas, surgidas ainda nas décadas de 70 e 80, no seio de um sistema carcerário primitivo, respectivamente nas carceragens de Taubaté, interior paulista, e no extinto presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, apresentavam-se inicialmente como manifestações organizadas para reivindicação de melhorias na qualidade e humanização do sistema carcerário.
Mas a profissionalização dessas organizações resultou na sofisticação de seus métodos, com alcance em quase todas as atividades criminosas, um verdadeiro poder invisível.
De efeito, a tese que se apresenta em “Assalto” pode ser resumida no fato de que as grandes organizações criminosas do país hoje, como forma de sobrevivência e manutenção de sua atuação, imbricam-se nas diversas esferas de comando governamental em uma ascensão aparentemente irreversível, mas desconhecido de quase todos.
Tal fenômeno que se observa hoje em nosso país nada mais espelha que uma tendência mundial de profissionalização das atividades ilegais, coisa não rara e não recente.
Com efeito, em “Assalto” há diversos exemplos de tais organizações criminosas pelo mundo, como a máfia italiana exportada para os Estados Unidos, proeminente em diversas atividades ilegais naqueles países; o narcoterrorismo das américas central e do sul, com exemplo claro dos cartéis de Calí e Medelín, com a tomada de vastos territórios; as atividades mafiosas surgidas com a derrocada do império soviético e seus países satélites, oportunizando inclusive o tráfico de armas nucleares dos antigos satélites comunistas, até hoje não encontradas.
Enfim, o fenômeno é mundial e a história não é recente, e não há motivos para o Brasil estar de fora.
Espanta, por fim, o despreparo e desconhecimento das autoridades públicas sobre o fenômeno, de modo que as políticas públicas destinam-se quase sempre a uma operação pontual ou outra que não ataca o problema.
Quer um exemplo? Em meados de 2006, o governo do Estado de São Paulo iniciou um frente de combate às principais lideranças do PCC. A resposta não tardou a vir, as forças de segurança foram surpreendidas com rebeliões em massa em diversos presídios e casas de detenção em São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, com ataques a agentes e prédios públicos, resultando em um enfrentamento com números de baixas próximos ao de uma guerra civil.
Espanta ainda a omissão da mídia sobre o fenômeno. Em “Assalto”, o autor apresenta um acordo tácito na rede Globo em que não se cita em seus veículos a denominação das principais organizações criminosas CV e PCC, como se fosse algo inexistente.
Em suma, é uma obra obrigatória por seu conteúdo.
Mas assusta!