Leon 17/08/2022
Me conquistou fácil
Eu adorei "O sol na cabeça". Gosto muito de contos e pequenas histórias que se passam no cotidiano ou sejam sobre temas prosaicos (ainda mais quando é na minha cidade) e o autor conta e retrata detalhes e coisas pequenas do dia a dia que me fizeram sentir dentro das histórias. Ele sabe muito bem escrever e trazer a experiência e o calor dos contos pra gente, é muito bom de mergulhar. As tramas nem sempre são muito originais, mas isso não é um problema. Geovani Martins sabe fazer contos surpreendentes a partir de temas simples, levando o enredo pra um desenvolvimento muito natural e convincente.
As histórias, que se passam nas favelas e áreas periféricas da cidade do Rio de Janeiro, com seus habitantes e rotinas (rolés pra praia, trânsito no metrô, convivência com policiais e grupos armados, etc) são muito realistas, mas o livro não é só isso. O livro não conta as histórias de uma visão de fora. Muito pelo contrário, o autor vive nos contextos retratados. Tem denúncia, mas tá dentro das histórias, não é nada gratuito ou superexposto, é tão complexo qnto a vida real. E os conflitos e dúvidas pessoais dos personagens também são mostrados, muito bem e com muito profundidade. A identidade, o senso de propósito, relflexões sobre relacionamentos, a dúvida com o futuro, tá tudo ali, conduzindo e misturado nas histórias. Por isso, nos melhores contos, são personagens muito humanos.
A escrita segue esse olhar de dentro. Eu não senti nunca, que é uma sensação que eu tenho as vezes em alguns livros, uma voz de superioridade nos narradores. Mas aqui a maioria dos contos são em primeira pessoa e o filtro dos narradores faz parte da história e ajuda na conexão. E isso fica claro. O primeiro conto, "Rolézim", foi uma bomba de gírias, uma coisa que eu nunca li antes, e achei incrível, além de ter um trama muito boa mesmo.
Nem todos contos funcionam tão bem quanto outros. Em alguns eu senti o narrador parecido demais com outros contos, então cortava um pouco a surpresa ou parecia falso, em alguns eu senti que a história mudava de direção, não parecia saber pra onde ia seguir. As vezes as histórias abarcavam vários assuntos e divagavam, mas funcionava e tudo fazia sentido; outras vezes, não. De qualquer forma, foram poucos os contos que eu não curti tanto, mas nenhum eu cheguei a não gostar.
Como morador do Rio eu adorei tudo e acabou.
Melhores contos: Rolézim, Roleta-russa, O rabisco, Estação Padre Miguel e Travessia.