Luiz Pereira Júnior 23/01/2024
Por um pouco mais de tempo...
Antes de mais nada, é preciso dizer que “O último magnata”, de F. Scott Fitzgerald, é uma obra inacabada (o autor morreu antes de finalizá-la). No entanto, devo salientar que li essa obra em uma edição da BestBolso, que apresenta dois anexos: 1) tomando por base anotações do próprio autor e de trechos de conversas com outras pessoas que tiveram contato com ele, há um resumo no final do livro daquilo que poderia ter sido a continuação da obra; 2) há a transcrição das notas esparsas do escritor, inclusive trechos que não foram incluídos no livro.
Por meio de uma narrativa, por assim dizer, um tanto truncada, Fitzgerald nos apresenta os bastidores de Hollywood por meio dos olhos de um de seus chefões (baseado em Irving Thalberg, antigo manda-chuva da MGM) e de uma mocinha apaixonada por ele.
Stahr, o protagonista, passa o dia trabalhando freneticamente, mas ainda arranja tempo para aproveitar a vida, pois sabe que tem uma doença terminal (não especificada). Após um terremoto, uma torrente inunda um de seus estúdios e, surrealmente, uma enorme cabeça de Buda passa flutuando e, em cima dela, duas moças que visitavam o estúdio. Uma delas é o retrato quase fiel de sua ex-esposa morta e ele busca de todas as formas conhecê-la (mas sem spoiler).
Ao mesmo tempo, temos o dia a dia de um magnata da indústria cinematográfica (e, pode-se dizer, da de entretenimento), com a maior parte do foco narrativo recaindo em sua relação com os escritores e roteiristas, que não passam de serviçais da máquina de fazer filmes. Nas notas do final do livro, ficamos sabendo que a intenção do autor também era a de incluir os aspectos vários (inclusive a corrupção e os escândalos) dos sindicatos que mandavam (ou que começavam a mandar) em Hollywood.
Enfim, um bom livro, mas que não deixa de exigir sua parcela de atenção – principalmente pela constante mudança de narrador, pelos trechos truncados, pelas personagens que aparecem e somem após terem dito a que vieram.
Sim, é possível dizer que se trata de uma obra menor de um mestre. Mas, mesmo sendo menor, reflete bem o que poderia ter sido se o escritor tivesse aquilo que todos nós queremos: um pouco mais de tempo, um pouco mais de vida...