nenos 25/06/2023
Os cautelosos raramente erram ou escrevem grandes poemas
Ganância, termo definido pelo dicionário Merriam-Webster como “avidez desordenada ou desmedida e geralmente repreensível, especialmente por riqueza ou lucro”. Essa própria avidez traz uma raiz comportamental enraizada na nossa natureza, talvez por nossos anseios ultrapassarem nossa capacidade de realização, talvez seja pela domesticação de um animal baseado em carne dentro de um contrato social que parece nos corroer por dentro e por vezes floresce um dos aspectos mais vis ou, talvez, a verdadeira expressão: O impulso.
O mercado pode ser assimilado com algumas premissas de como funciona nosso universo. Segundo Douglas Adams: Nada é impossível, somente improvável. Os eventos futuros da dança cósmica são governados por probabilidades, e se esperar tempo o suficiente, pode acontecer a coisa mais improvável que se possa imaginar. A questão é que não vivemos no universo, diz Dr. Neil DeGrasse: Nós somos o universo, nossa composição traça uma linha cronológica até as fornalhas das nebulosas e os primórdios de uma incógnita.
Tomei liberdade de dissertar sobre os assuntos: abstração, efemeridade, risco e irracionalidade no sentido mais amplo da palavra por tomar uma boa parte do livro e, particularmente, não gostei da forma como o Sr. Howard Marks aborda o tema. Pois bem, em decorrência dessa dança cósmica, percebemos similaridades nos acontecimentos entrópicos no nicho de seres emocionalmente instáveis e mal intencionados: O mercado acionário. E sobre o mercado acionário, o mastodôntico gestor Howard Marks fala com propriedade o resultado do seu credo.
Se nada é garantido, porquê investir? Dentro dessa ironia cruel vale apena escutar estratégias bem sucedidas que são religiões de grandes gestores como o Sr. Howard, o Mestre Buffett e o Grande Benjamin Graham: o Value-investing. O método Graham traz acima de tudo uma visão sustentável com abordagens empíricas que o “Investidor de longo prazo” se torne um pleonasmo. Vale ressaltar que o espectro de assumir riscos está sempre presente, afinal, se investir fosse fácil, bastava plagiar os investimentos de grandes gestores como Buffett e reproduzir o Security Analysis considerando que o mercado é um ambiente controlado para teses científicas concretas, o que não é.
Um dos fundamentos é apostar no desempenho da própria empresa (O caixa do balanço patrimonial, o valor dos ativos tangíveis e a capacidade da empresa ou do ativo para gerar caixa) e não uma análise do valor atual, mas isso basta? Diz Sr. Howard que aqueles que tentam simplificar o ato de investir prestam um grande desserviço ao público, portanto, levando em consideração que todos nós estamos na nave Coração de ouro e o mercado é o gerador de improbabilidade infinita, precisamos entender como controlar o ímpeto da ganância, aprender a apreciar a natureza cíclica das coisas e ler incessantemente sobre a base de nossas ponderações: o paradoxo do mercado eficiente e ineficiente.
O debate da eficiência e ineficiência não se trata se definir um modelo, mas entender as nuances e incitar percepções. A hipótese do mercado eficiente afirma que todos compartilham o acesso às informações relevantes, todos são inteligentes, objetivos, altamente motivados, que fazem uso de bons modelos analíticos e através dessa inteligência coletiva a informação se reflete plenamente no preço de cada ativo, até mesmo acredita que existe uma precificação justa. Esse dispositivo engole um sujeito bem presente: O ego.
A eficiência também pode ser prejudicial à sua confiança para assunção de riscos estratégicos, afinal, por que existem pechinchas? Se oferece um retorno excessivo, porquê o vendedor irá se desfazer? Se é tão bom porquê ainda não vendeu? Sabemos mais sobre o ativo do que o vendedor? O outro lado da moeda como diz Sr. Howard, é semelhante à mesa de poker no sentido de ser relativamente fácil identificar os jogadores ruins, as inconsistências emocionais incorporadas ao preço e a assimetria gritante no acesso às informações.
Queremos uma chance digna de lutar, portanto, Habla Sr. Howard: “Ganhar 10 milhões na roleta-russa não tem o mesmo valor que ganhar 10 milhões pela prática diligente e habilidosa da odontologia. O valor ganho é o mesmo e pode comprar os mesmos bens, contudo, um depende muito mais do acaso do que o outro. No fundo, não posso deixar de considerá-los como qualitativamente diferentes.”
Link para meus highlights: https://drive.google.com/file/d/18khztPgMr0RjPicmP9iPijW8DRZoeNj9/view?usp=share_link