spoiler visualizarfranrompk 05/02/2022
Como alguns dos colegas resenhistas daqui, eu busquei o poema depois de ter assistido ao filme de David Lowery (The Green Knight, 2021) que preciso dizer, me cutucou durante um bom tempo! Me incomodou porque a narrativa é tecida, me parece, muito a partir do não-mostrado, do não-dito, do que deve ser inferido com o auxílio de um lastro sobre o que é um Cavaleiro, sobre o que deve ser um Cavaleiro e que não é explicitado na obra fílmica em si. O caminho de Gauvain (prefiro o nome dele assim) de provação como aspirante a Cavaleiro, em que precisa se testar nas tais virtudes que todos eles devem ostentar, fica um pouco enevoado para quem não é experimentado no tema e aqui acho que o poema ajuda a estabelecer essas balizas.
Como exceção, talvez, dessa "brumosidade", temos a preleção da Senhora do Castelo sobre o que poderia representar a cor verde desse Cavaleiro misterioso e que é, para mim, primorosa, e ajuda a entender o próprio poema. Que lindo este diálogo entre o poema antigo e a obra fílmica!
Bem, sobre o poema em si, na minha experiência como leitora eu tenho aprendido (não sem algum custo) que para vermos com justiça certas obras, precisamos de um esforço estético. A nossa sensibilidade de hoje, além de interferir um pouco nesses personagens tão longínquos, pode ver com algum estranhamento esses poemas, tão convencionais, à primeira vista, tão presos a uma tradição...
Mas é mesmo incrível o que esses autores conseguiam fazer nos limites dessa tradição e a diversidade de personagens, de enredos, dessas obras é possivelmente uma prova por si.
Talvez o que eu mais particularmente tenha gostado neste poema seja seu poder de evocação imagética. A figura do Cavaleiro Verde e de Gauvain, tão rica em detalhes, tão cheia de cores, tão plena de simbolismos em que o exterior reflete muito do que se é interiormente, construiu verdadeiras iluminuras na minha cabeça enquanto eu lia.
Quanto à provação de Gauvain que termina no que ele considera uma falta repreensível ao limite de uma culpa que não o abandona e que o leva a ostentá-la em sua própria composição externa de cavaleiro, nesta mesma lógica, pode soar um pouco exagerada para nós. Seu autojulgamento é severo demais. Mas assim são os nobres Cavaleiros que habitam as páginas dos livros e que bom que estas páginas chegaram até a gente. Também passaram pelo crivo severo de outros e por suas próprias aventuras através dos tempos. A parte todo o resto, só isso valeria a leitura.