Lurdes 24/12/2023
Que livro, senhoras e senhores!
O que pesa no Norte foi uma experiência de leitura maravilhosa.
Como disse no post das leituras do mês, foi favoritado com sucesso e estou na torcida para que saia vencedor do Prêmio Oceanos, onde é um dos finalistas.
Mas vamos à estória.
Guilherme acaba de desaparecer.
De novo.
Mas desta vez por mais tempo. Já se passaram 3 meses quando os pais são informados de seu sumiço.
Guilherme já morou em outros estados e agora vivia em São Paulo, onde fazia parte de um grupo de teatro alternativo.
A família, que reside na Paraiba, é composta pelo pai Ricardo, opressor e agressivo, que já ultrapassou os limites do razoável várias vezes. A mãe Ana, sensível, submissa, que vive no Espectro e tem seus sintomas potencializados quando em situações de stress, e o irmão mais novo, Gustavo, que não sei bem como definir. Ora parecia ter uma relação fraternal com Guilherme, ora parecia tirar proveito próprio das fragilidades emocionais do irmão.
Diante do desespero de Ana, Ricardo, mesmo contrariado, viaja para São Paulo em busca do filho perdido.
Enquanto ele busca pistas do paradeiro de Guilherme e vai cruzando com as poucas pessoas com quem convivia, Ricardo vai lembrando os fatos e conflitos entre os dois e só aí, começa a conhecer o filho, por quem sempre sentiu tanto desprezo.
Momentos muito emocionantes ocorrem e vem à tona um passado de violência doméstica, relação tóxica, homofobia, abuso, auto-mutilação, negligência, ausência e desamor.
O sonho de Guilherme em se tornar artista, escritor e, por fim, ator, ia contra todas as expectativas do pai.
Destaque para o enfoque da cena teatral paulistana no período, com personagens fascinantes, dentre eles Ivan/Vânia que cheguei a pesquisar se existia, de tão crivel.
Recomendo muuito.
Uma rara e sensível abordagem da paternidade.
Ah! O título é um verso da música 3 X 4, de Belchior, também ele um "nortista" que desceu para a grande cidade do sul.