O que pesa no Norte

O que pesa no Norte Tiago Germano
Tiago Germano




Resenhas - O que pesa no Norte


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Egberto Vital 28/04/2024

"Uma narrativa sobre os valores e os arbítrios da classe média brasileira, especialmente a do Nordeste", "O que Pesa no Norte", de Tiago Germano, é também isso, mas não só isso. É, em um mesmo movimento, uma caminhada nas turbulentas jornadas que percorrem o tecido social e familiar de um Brasil invisível, que se esconde nos confortáveis e seguros condomínios fechados. É um romance que também questiona: Existe rasgo maior no tecido social de uma família do que o abandono, o desprezo, os preconceitos e a indiferença? E quais os efeitos desses rasgos quando uma família desfuncional não consegue cerzir os seus farrapos?

Pela trajetória de partida (sem despedida ou pistas) de Guido, somos conduzidos a um quarto escuro de experiências, onde Ricardo, um homem misógino e adúltero; um pai homofóbico e violento, se vê confrontado com os movimentos de insurgência de seu filho mais velho, cujo coração bate no ritmo das artes cênicas, desafiando as expectativas e imposições paternas. Guilherme (ou Guido) é o oposto avesso do pai e suas geografias se distanciam a cada tentativa de encontro.

A mãe, uma mulher depressiva, oprimida pela misoginia do esposo, se vê paralisada diante do desaparecimento do filho e da indiferença do marido. Talvez o sumiço de Guido fosse um conforto para Ricardo, e a doença da mulher é a propulsão que o incomoda e o retira da confortável não-presença do filho.

Tiago Germano constrói suas personagens revelando camadas de sujeitos que interagem em um jogo de luz e sombra, que reflete os conflitos entre gerações e as diferentes visões de mundo num palco que é a própria vida. Enquanto Guilherme desafia o status quo, buscando sua própria voz e verdade, seu irmão Gustavo busca a aceitação do pai, reproduzindo suas dinâmicas e atendendo às suas expectativas; é o filho perfeito, o filho macho que dá orgulho ao pai, aquele que se adequa perfeitamente às convenções sociais pré-estabelecidas por aquele núcleo familiar essencialmente patriarcal.

"O que Pesa no Norte" é uma narrativa que desvela o pano que cobre as cicatrizes de uma sociedade construída pelos retalhos de vidas que vão "puíndo" ao longo de suas jornadas, vidas que desbotam e se perdem enquanto outras quaram inertes e ressecam até serem levadas pelo vento ou esquecidas pelo tempo. É uma narrativa sobre o fardo pesado de se ser o que é.
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Lurdes 24/12/2023

Que livro, senhoras e senhores!
O que pesa no Norte foi uma experiência de leitura maravilhosa.
Como disse no post das leituras do mês, foi favoritado com sucesso e estou na torcida para que saia vencedor do Prêmio Oceanos, onde é um dos finalistas.

Mas vamos à estória.
Guilherme acaba de desaparecer.
De novo.
Mas desta vez por mais tempo. Já se passaram 3 meses quando os pais são informados de seu sumiço.
Guilherme já morou em outros estados e agora vivia em São Paulo, onde fazia parte de um grupo de teatro alternativo.
A família, que reside na Paraiba, é composta pelo pai Ricardo, opressor e agressivo, que já ultrapassou os limites do razoável várias vezes. A mãe Ana, sensível, submissa, que vive no Espectro e tem seus sintomas potencializados quando em situações de stress, e o irmão mais novo, Gustavo, que não sei bem como definir. Ora parecia ter uma relação fraternal com Guilherme, ora parecia tirar proveito próprio das fragilidades emocionais do irmão.

Diante do desespero de Ana, Ricardo, mesmo contrariado, viaja para São Paulo em busca do filho perdido.
Enquanto ele busca pistas do paradeiro de Guilherme e vai cruzando com as poucas pessoas com quem convivia, Ricardo vai lembrando os fatos e conflitos entre os dois e só aí, começa a conhecer o filho, por quem sempre sentiu tanto desprezo.
Momentos muito emocionantes ocorrem e vem à tona um passado de violência doméstica, relação tóxica, homofobia, abuso, auto-mutilação, negligência, ausência e desamor.

O sonho de Guilherme em se tornar artista, escritor e, por fim, ator, ia contra todas as expectativas do pai.
Destaque para o enfoque da cena teatral paulistana no período, com personagens fascinantes, dentre eles Ivan/Vânia que cheguei a pesquisar se existia, de tão crivel.

Recomendo muuito.
Uma rara e sensível abordagem da paternidade.

Ah! O título é um verso da música 3 X 4, de Belchior, também ele um "nortista" que desceu para a grande cidade do sul.
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Talita | @gosteilogoindico 09/06/2023

Minhas impressões de leitura
Um livro bem descritivo, personagens bem desenvolvidos e com um tema bem relevante e delicado. Gostei de como o autor nos inseriu na história com muitos detalhes do ambiente, do personagem, suas emoções e analogias. O que me deixou um pouco incomodada foi os detalhes excessivos em alguns momentos e o final.
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leiturasdabiaprado 28/05/2023

Machismo, relacionamento abusivo, criação tóxica e homofobia... esse é o pano de fundo desse livro!
Guilherme é um jovem adulto que desde sempre sofreu com o comportamento tóxico, violento e arbitrário do pai.
Guilherme cresce com medo, se automutilando, tentando se esconder... esconder sua vocação, sua sexualidade, sua essência...
Um dia, faltando um ano para terminar o curso de direito, ele enfrenta o pai, diz que vai abandonar o curso, que vai fazer artes cênicas e que é homossexual, fala isso no meio de uma festa, como se aquele cenário adverso de repente tivesse lhe dado uma coragem que lhe faltou durante toda a vida...
Guilherme sai do nordeste, vai para São Paulo em busca de sua vida!
O tempo passa e de repente tem três meses que ninguém sabe dele, nem sua família, nem no prédio que ele mora, nem no teatro, nem os amigos...
O pai então entra num avião e vai buscar notícias, descobrir o paradeiro... e aí vamos conhecendo mais esse homem, Ricardo... e percebemos que muito mais do que em busca do filho ele foi em busca dele mesmo!
Ricardo é um personagem muito bem escrito, extremamente odioso, mas que nos revela também ter sofrido com um pai autoritário!
O livro vai e volta no passado, nos mostra a infância de Guilherme e também um pouco da de Ricardo, mas, o que livro mais nos mostra é o peso do machismo, a construção de uma família com base no autoritarismo e todas as mazelas que isso faz...
Paralelamente vamos vendo o apagamento de Ana, esposa de Ricardo e mãe de Guilherme, como o meio tóxico e o relacionamento abusivo enfraqueceram o seu psicológico!
Um livro forte e carregado de gatilhos!
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Edmar.Candeia 09/01/2023

Quase real!
Excelente obra! Bem escrita, detalhes tão bem descritos que parece que assistimos as cenas. É daquelas obras que nos prendem, angustiam, nos irritamos com alguns personagens e terminamos torcendo pelo final feliz ou não, mas que foi bem escolhido pelo autor.
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Toni 16/07/2022

Leituras de 2022

O que pesa no norte [2022]
Tiago Germano (PB, 1982-)
Moinhos, 2022, 296 pág.

A primeira violência homofóbica de que tenho lembrança aconteceu quando eu tinha 10 anos, em ocasião da formatura da 4ª série (foto). Estávamos em fila indiana e aguardávamos a vez para vestir a beca e o famoso capelo. Quando se tratava de uma menina, a pessoa responsável dizia para a criança morder os lábios para não sujar de batom o babadinho branco. O mesmo, claro, não era pedido aos meninos. Chegada a minha vez, no entanto, veio aquela ordem que eu já tinha ouvido dirigida às coleguinhas. Ingênuo, fiz o que me foi pedido. Quando a beca passou pela minha cabeça e todos viram que eu estava mordendo os lábios, adultos e crianças caíram na gargalhada. Sem entender bem, naquele dia eu me formei com uma tristeza.

“O que pesa no norte”, segundo romance do paraibano Tiago Germano, encontra-se atravessado de tristezas semelhantes. É a história de um pai em busca de seu filho e, de forma mais abrangente, uma genealogia de violências transmitidas com orgulho torpe por gerações de famílias. Guilherme é o filho mais velho de Ricardo e Ana que, após abandonar o curso de direito e se mudar para SP em busca de sua paixão pelas artes cênicas, desaparece das vistas de amigos, vizinhos e colegas do teatro. Ricardo parte sozinho para a capital paulista em busca de quaisquer rastros que possam indicar o paradeiro do filho — uma busca que parece produzir menos angústia na distância do que na proximidade entre um filho gay e seu pai.

Contra a urgência do próprio gênero policial ou, ainda, contra a pulsão de desaparecimento de alguém que não deseja ser encontrado, o registro realista de Germano faz o tempo se arrastar a passos de uma memória agrilhoada – à culpa, ao preconceito, ao machismo-homofóbico. Já a construção minuciosa de cenas explosivas faz com que a tensão escorra terrivelmente, brilhantemente, por cada capítulo à medida que revela, à conta-gotas e de diferentes perspectivas, a face de um patriarcado tacanho e castrador de subjetividades. Um romance potente sobre o qual conversarei com o autor amanhã, na Live de Lançamento no canal do YouTube da Moinhos. Não percam!
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InfinitaTBR- Jana 05/04/2021

Um drama familiar dos grandes
Gostei do livro, da história, dos personagens e da ambientação. Porém, é uma trama repleta de gatilhos: violência doméstica, abuso psicológico, depressão, homofobia , mutilação...
O que me incomodou foram os inúmeros erros de digitação. O próprio autor me falou que o livro será revisado e que em breve será lançada a edição física.
O final foi bom, mas eu queria mais emoção. Foi bem reflexivo.
Detalhe: a música de Belchior não saía da cabeça durante a leitura.
Recomendo.
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Vitor.Garim 05/01/2021

Livro incrível... Amei o jeito esférico e generalizado que os personagens são tratados. Guilherme é singular e, ao mesmo tempo, coletivo. Me senti representando nessa obra magnifica. Leiam!
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