Alan Santana 24/02/2024
Crônicas de Petersburgo
"A felicidade consiste numa atividade eterna e incansável e no desenvolvimento, na prática, de todas as nossas inclinações e capacidades".
"Cronicas de Petersburgo" é uma obra que mergulha nas entranhas da sociedade de São Petersburgo, expondo suas contradições e hipocrisias. Dostoiévski vai além das aparências, revelando a verdadeira essência por trás das fachadas da grandiosa capital. Ao longo das páginas, o autor não apenas descreve, mas escancara a podridão que subjaz à sociedade petersburguense, destacando que a verdadeira realidade da vida reside na dor e no sofrimento do campesinato escravizado, e não nos rituais sociais da classe dominante.
Somos conduzidos por uma São Petersburgo que contrasta fortemente com a imagem romantizada que muitos têm da cidade. Seus relatos mostram uma metrópole coberta de limo e lixo, onde a pobreza e a miséria são onipresentes. No entanto, em meio a esse cenário desolador, o autor também enxerga um elemento de vitalidade e transformação. Em um caso de "amor e ódio", ele defende a cidade como um símbolo da mudança ocidentalista, em oposição ao conservadorismo representado por Moscou. Mostrando-se tal como seus personagens mais marcantes: cindido.
Além disso, o livro expressa seu protesto contra a liberdade de expressão limitada da época. Dostoiévski não apenas denuncia os problemas sociais da Rússia, mas também lança luz sobre a doença moral e social que assola o país, pedido que os intelectuais sonhadores de sua época tentem colocar em prática as ideias que tanto defendem, mas que nunca saem do mundo da teoria enquanto, ironicamente, retorna à função de folhetinista para contar as novidades da cidade.
O livro ilustra a visão mordaz de Dostoiévski sobre a sociedade e sua busca implacável pela verdade, mesmo que esta seja desconfortável ou desagradável. "Como? Rir em nosso século, em nossa época, uma época inflexível..." ? essa frase encapsula a ironia e o desdém do autor pela superficialidade da sociedade em que vive. Em última análise, é uma obra atemporal (e MUITO subestimada) que nos confronta com as complexidades e contradições da condição humana, instigando-nos a questionar nossas próprias concepções de verdade e realidade.
?A hipocrisia, a dissimulação e a máscara ? são uma coisa detestável, concordo, mas se, no presente momento, todo mundo aparecesse como de fato é, pois juro que isso seria bem pior?.
Sinceramente tinha horas que não sabia se estava lendo sobre São Petersburgo ou sobre São Paulo. ?