Lore 08/10/2022
Um milhão de pequenas coisas - Jodi Picoult
Senti empatia por um supremacista branco com uma suástica tatuada na cabeça. Imaginei como seria ter minha casa invadida às 3 da manhã e ver policiais me desrespeitando fisicamente na frente do meu perfeito e único filho que também é violentado, simplesmente por ser negro. Também tive o prazer de reconhecer que brancos são sim privilegiados desde o nascimento, e que inconscientemente fazemos papel de ignorantes perante a sociedade e sua luta contra o racismo. Desse modo, desafio você a ler o livro e não sentir o mínimo dos sentimentos, seja ele bom ou ruim.
Um milhão de pequenas narra a história de Ruth, enfermeira obstétrica há mais de 20 anos, que é impedida de tratar um bebê cujos pais são supremacistas brancos que exigem a exclusão de qualquer negro próximo a Davis Bauer (the baby). Acontece que depois de um turno duplo de trabalho Ruth acaba ficando sozinha com Davis, pois ela é a única enfermeira disponível na ala neonatal, já que todas as outras foram chamadas para um parto de emergência. Durante esse tempo a criança começa a sofrer complicações e Ruth sem saber o que fazer acaba hesitando: será que devo prestar atendimento? ou preciso acatar as ordens da minha superior e não encostar nesse bebê branco?
O bebê acaba recebendo atendimento, porém ele morre. É aqui onde Rute será responsabilizada pela morte de Davis, pois os pais Brittany e Turk inconformados com a morte do seu primogênito querem descontar todo ódio às "raças inferiores". E para sua infelicidade, a enfermeira recebe uma defensora pública branca que se recusa a colocar no tribunal a questão de raça, por achar que será prejudicial a esta mãe que por ironia é viúva e recém desempregada, por ser negra.
Narrado por Ruth, Turk e Kennedy, este livro é construído por muita pesquisa, observa-se que cada um dos personagens tem propriedade para exercer o seu papel com maestria e incitar os leitores a sentirem o misto de emoções que eles carregam.
Ao acompanhar Ruth Jefferson, narrativa principal, você observa o quão dedicada uma profissional pode ser no seu local de trabalho, e como ela se esforçava para manter o script e ser incluída na sociedade branca e inspirar seu filho de 17 anos a seguir seus passos.
Turk Bauer nos prende com seu furor skinhead. É interessante acompanhar a dor de um pai enlutado e seu furor crescente por alguém que não fez nada além do seu trabalho. Bauer idolatra tudo relacionado ao white power, se considera superior em todos os níveis. Acompanhá-lo como racista pode ser intragável às vezes, mas pela narrativa você acaba sentindo pena e empatia por esse ser humano arcaico.
Pelo lado da advogada Kennedy percebe-se o auto reconhecimento de um privilégio que vem sendo ignorado desde que ela se entende por gente. A evolução dessa personagem vale cada minuto lido do livro.
É uma ótima leitura.
São 2 da manhã, gostaria de poder deixar ao menos 10% das minhas impressões, porém ainda é difícil escrever uma resenha de qualidade, um dia chego lá.