Kelly Karina Martins 05/06/2021
A ordem
A escolha de ler ?A Ordem? e não uma obra mais antiga de Daniel Silva foi pela temática: um evangelho apócrifo escondido nos Arquivos Secretos do Vaticano que pode causar uma revolução em um das acusações mais antigas da humanidade, a morte cercada de mistério do Papa e os planos de uma ordem extremista existente dentro da Igreja. E essa preleção pela ?A Ordem? é influência de ?O Código Da Vinci? (livro responsável por criar o meu hábito de leitura) e ?Anjos e Demônios? (a melhor história escrita por Dan Brown).
E com 23 títulos já escritos, sendo 20 com Gabriel Allon como protagonista, e 2 prêmios Barry de melhor thriller, fiquei bastante surpreso ao constatar que ?A Ordem? é uma leitura bem mediana.
Começo minha análise por Gabriel Allon, o protagonista de ?A Ordem?. Intitulado como ?lendário? pelo escritor, todos os seus planos são executados de forma muito fácil. Todos os obstáculos são contornados como se eles simplesmente não existissem. O próprio Escritório, como é chamado o setor de inteligência israelense que Allon, comanda executa tudo sem nenhuma dificuldade, quase como em um passe de mágica.
Até entendo a ideia do autor em querer mostrar Gabriel Allon e o Escritório como algo extraordinário e superior a quaisquer outros agentes e órgãos de inteligência do mundo, mas até mesmo James Bond e o MI-6 passam algum perrengue. A forma como a resolução dos problemas pelo lendário agente secreto israelense e seus companheiros é mostrada nas páginas de ?A Ordem? não trazem nenhuma emoção à história.
E se Gabriel Allon e o Escritório são invencíveis, os seus oponentes são medíocres. A misteriosa morte do Papa, a possível manipulação do Conclave e as tramoias para colocar a extrema-direita nos cargos de comando dos países europeus possuem o dedo da Ordem de Santa Helena, uma organização dentro da Igreja Católica com grande poder político e financeiro.
Fiquei muito frustrado pois esperava mais da Ordem, que nada fazia para impedir os movimentos de Allon, dono de um currículo e fama incríveis em impedir os maiores e mais perigosos planos ao redor do mundo. Em determinada passagem do livro, um dos integrantes dessa organização fala para seu líder que o agente secreto israelense tem provas importantes sobre os planos deles e que pretende impedi-los. E o que acontece? Nada! E esse nada acontece em uma sucessão surpreendente.
O grande foco de ?A Ordem? é o ódio milenar dos povos para com os judeus. Nesse ponto Daniel Silva se aprofunda bastante relatando fatos históricos, como por exemplo, a conivência da Igreja em relação ao massacre dos judeus realizados pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Além disso ele aborda as divergências existentes nos Evangelhos do papel do povo de Deus na crucificação de Jesus. E para reforçar esse ponto específico, o escritor traz à tona um evangelho apócrifo escrito por uma das pessoas mais importantes no julgamento do Nazareno, desmentindo uma das falas mais famosas da Bíblia que trouxe toda essa ira milenar direcionada aos judeus.
O escritor traz muita informação técnica e histórica, além de descrever de forma bastante detalhada as localidades por onde a trama passa e acontece. Mas esses aspectos narrativos, apesar de mostrar uma extenso trabalho de pesquisa por parte de Daniel Silva, não podem ser considerados como ponto de destaque, já que um thriller literário tem que ter como regra essas características.
Apesar de tudo isso, a escrita e forma de conduzir a história de Daniel Silva é ótima, trazendo uma leitura veloz mesmo com uma quantidade muito grande de descrições e informações históricas, geográficas e religiosas.
Minha conclusão em relação ?A Ordem? é que Daniel Silva possui uma escrita muito ágil e envolvente, mas trouxe uma história sem nenhum atrativo narrativo, tanto por parte do protagonista, como por parte dos seus oponentes.