roberta 30/01/2023
Um Kindle Molhado
Eu gostaria de um prólogo com esse conselho: Caro leitor, daqui em diante uma caixa de lenço ou duas te servirá bem. De toda a série de livros, o Cristal do Tempo carrega em suas páginas a responsabilidade da narrativa mais emocionante comparada as anteriores, construída tijolo a tijolo e cimentada com a melhor das imprevisibilidades, nem no choro existe certeza se é seguro chorar agora, talvez tudo mude.
Não posso dizer que existe algo em particular que me sopra essa sensação, acho que é o conjunto de um artista completo, mas enquanto lia era capaz de sentir uma vulnerabilidade na história que deve ser toda creditada ao Soman. Por um lado, a narrativa do conto de fadas pela primeira vez sente o fantasma da dúvida voltar com a promessa de ficar, as armas do bem serão capazes de enfrentar o maior dos males? O que é muito perspicaz, porque para além da ficção essa assombração vaga no nosso mundo, ainda que não seja dada uma circunstância prévia, a busca por essa resposta provavelmente já foi motivo de tormenta individual. Por outro fragmento de cristal, (gratidão Soman Chainani por uma metáfora gratuita) arcos pendentes precisaram se encerrar e confesso puro achismo nessas linhas, me pergunto se essas despedidas quase que familiares não foram tão pessoais para leitor e autor a ponto de concretizar uma intimidade tão forte, que tudo o que restava era dar espaço ao nosso lado mais sentimental.
Mais uma vez ele não deixa desamparos porque é um autor que sabe construir reflexos, por favor só pode ser muita coincidência com esse título. Ainda que deteste uma personagem, discorde das suas ações, feche o livro e só abra no dia seguinte, alguma coisa nas camadas sem fim dos personagens vai ser como se olhar em um espelho, o vidro dizendo: "Aqui é seguro!". Não atoa o Soman conduz o equilíbrio entre bem e mal dentro de cada um, como se fosse brincadeira de criança, ele apenas sabe o que faz.
Não posso deixar de me sentir grata pelo presente que é a oportunidade de ler o capítulo 16 removido, é um presente ver a obra sem cortes, mais que isso são os cortes trazerem o prazer da descoberta simultânea, como se eu e os personagens fossemos amigos íntimos apenas distantes por um cristal do tempo. Só posso dizer brilhante e brilhante!