Tuca 12/04/2021Qual era o preço do escândalo? Será que até para uma bilionária ele seria caro demais? Emily Stanton tinha dinheiro - muito dinheiro - mas isso não fazia dela uma herdeira que queria apenas usufruir do fruto do trabalho alheio. Uma nerd de química, Emily juntou seu fundo fiduciário com sua inteligência e fundou a Flawless, uma empresa de cosméticos, cujo nome dizia muito sobre a dona. Flawless significa perfeito/a, sem defeitos, e essa era a imagem que Emily se esforçava para passar a sociedade e a sua família, afinal, uma mulher no poder é muito mais criticada e subestimada do que um homem, e Emily não podia dar margem para que nem seus clientes, nem seus acionistas duvidassem de sua capacidade.
Mas quando ela é flagrada em um encontro com um rapaz carregando drogas, sua reputação vai pro lixo, juntamente com o nome da sua empresa, e para se reerguer a Flawless contrata Derek Price, a quem eu chamo de “a versão masculina de Olivia Pope” (se você nunca assistiu a Scandal, série protoganizada pela personagem Olivia Pope, você não sabe o que tá perdendo, e se você é fã de Scandal e de um bom romance, esse é seu livro) e o melhor gerenciador de crises da cidade (ou do país?). Sem saber, Emily havia ignorado todos os contatos de Derek, e o modo pelo qual ele decidiu chamar sua atenção, foi invadir seu apartamento e usufruir de um bom banho de banheira na mansão da sua cliente no condômino exclusivo e podre de chique que Emily e suas amigas bilionárias fundaram, o Bluewater.
Antes de qualquer coisa, não tenho como fugir de falar do Bluewater, esse magnífico lugar, que não apenas dá nome a série, mas é um paraíso luxuoso, divertido e um personagem à parte nessa história. Em formato de órgãos genitais, e tendo além dos moradores humanos, um jacaré que usa uma prótese e um São Bernardo que invade casas, Bluewater ainda tem uma vista maravilhosa, a qual inclui o acasalamento de golfinhos, e a vida cada vez menos privada de Emily Stanton, e suas amigas Cam, Luna e Daisy, as protagonistas dos próximos livros, cada qual escrito por uma autora diferente.
Em uma comédia romântica que foge do clichê ao mesmo tempo que quebra estereótipos, Derek Price não é um cara mulherengo, e sim um quarentão lindo, muito apegado a família que sonha em ter a sua própria e consegue enxergar em Emily tudo aquilo que ela tenta esconder do mundo. Enquanto isso, Emily é uma workaholic sem tempo para nada além do seu império e suas amigas. Eles acabam se encontrando não apenas no desejo de Derek de fazer um bom trabalho, mas em sua paixão pelos negócios, e em uma forte atração um pelo outro, mesmo que antes disso tenham mantido uma relação de gato e rato, com diálogos maravilhosos.
Com um início mais lento, em que vamos gradativamente sendo apresentados aos personagens (e que personagens! Até mesmo aqueles mencionados superficialmente ou que apresentam papéis secundários, como Jane ou os funcionários de Derek, em sua maioria são divertidos) e ao conflito, tem no desenrolar do desfecho final uma cola super bonder que não me deixava soltá-lo até descobrir o que iria ser feito para que Emily saísse da “sinuca de bico” em que se encontrava. E nesse final, Lucy Score foi extremamente coerente com a proposta da narrativa.
Esse é um livro muito necessário no gênero do romance romântico contemporâneo, com uma mulher poderosa e perseverante, uma mulher que tem inteligência, generosidade, tino pra negócios, amigas fiéis e de quebra um homem gostoso, parceiro e louco por ela ao seu lado. “O preço do escândalo” é com certeza um livro para quem gosta das mocinhas fodonas, que fazem uma diferença no mundo e que inspiram outras mulheres. Além de trazer o tom de que somos sim capazes de encontrar maneiras de dar a volta por cima, e de que é possível equilibrar carreira e coração, é possível deixar sua marca na vida de outras pessoas e se permitir ser marcada por elas. Vivemos em uma sociedade que cobra muito das mulheres, chegou a hora de a cobrarmos de volta, e de lutar por tudo aquilo pelo qual trabalhamos, sem permitir que velhas imposições sociais nos atrapalhem ou nos culpabilizem por responsabilidades alheias. O preço do escândalo com certeza foi o valor mais bem pago da vida de Emily Stanton.
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