readby 08/01/2024
A dor da espera
Diferente de alguns contos lidos recentemente, me senti totalmente cativada pela escrita emotiva e envolvente da autora Lygia Fagundes. É confrontador olhar para as duas faces da história: a esperança angustiante de quem fica e o medo indiferente de quem vai. Em suma, esse conto é fantástico, nos leva a uma reflexão das marcas, como dito por Nikos, deixadas em outras pessoas.
Dez anos de aventura. Agora ali estava, as mãos trêmulas, sem coragem de subir aquelas escadas e abrir a porta, ?voltei, Marghí, voltei!? O remorso por tê-la deixado assim, sem uma carta, sem nada, poderia ter-lhe dito simplesmente: ?Marghí, eu te amo mas não quero ficar, sou instável, tenho verdadeiro horror de me enraizar, me apoltronar na sua concha ? ô Marghí! Sou um grego meio louco, está me escutando?? Levantar âncoras. Mas quando se pilhava livre, a aflição da volta, desejo de estar onde não estava. O cansaço, o olho enevoado como o próprio horizonte, já não estava na hora? E o medo da volta, da realidade espantando o sonho, ?tenho medo, Marghí, medo de me enganar como já me enganei tantas vezes, quando pensava que era um amor definitivo, para sempre. Não era. No fundo de cada aventura, só vaidade. Ou horror da solidão. Acho que não presto, sou um desfibrado...?