spoiler visualizarPaulo 04/08/2023
Perdendo a ilusão de ser eterno
Excelente conto, embora não tenha gostado muito do texto em português, com erros e passagens estranhas. O conto merecia tradução e revisão de melhor qualidade.
[Spoilers gigantescos a partir daqui.]
Embora nenhum contexto seja dado no início, percebe-se que os três personagens principais, um deles o narrador, estiveram envolvidos em luta contra o fascismo na Espanha. O conto começa com a noite em que são sumariamente condenados à morte, pena que será executada logo na manhã seguinte, por um pelotão de fuzilamento. As reflexões do narrador exploram, então, a ideia da proximidade da morte. Em um momento, confronta as vaidades da vida e a dureza do momento final:
"Quão loucamente corri atrás da felicidade, das mulheres e da liberdade. Por quê? Eu queria libertar a Espanha, eu admirava Francisco Pi y Margall, entrei para o movimento anarquista, discursei em reuniões públicas: levei tudo tão a sério como se fosse imortal. [...] Minha vida estava na minha frente, encerrada, fechada, como uma bolsa e ainda assim tudo dentro dela estava inacabado."
Um rapaz mais jovem chora a noite toda, inconformado com seu destino: afirma sem parar que nunca participou de nenhuma ação. Eles recusam um padre, e acabam recebendo a visita de um médico, que se oferece para tentar minimizar o sofrimento deles naquela noite, mas não faz nada para isso. Quando a ideia da morte está bem instaurada na mente do narrador, ele observa:
"No estado em que eu estava, se alguém tivesse vindo e me dissesse que eu poderia ir para casa em silêncio, que eles poupariam toda a minha vida, isso me deixaria gelado: várias horas ou vários anos de espera são todos iguais quando você perdeu a ilusão de ser eterno."
Os fascistas, no entanto, desejam especialmente encontrar Ramon Gris, um rebelde que deve ser de maior importância. O narrador sabe onde ele está, mas se recusou a dizer por ocasião de sua sentença. De manhã, farão outra tentativa: apenas os dois colegas são levados para a execução. O narrador ouve o fuzilamente ao longe, mas é levado para uma sala. Ele resolve mentir, dizendo que ele estava escondido no cemitério, mais com o intuito de se divertir com a confusão dos fascistas do que para ganhar mais algumas horas de vida. Porém ele acaba sendo libertado, e descobre que, ironicamente, a mentira dele havia se revelado uma verdade: Gris havia saído de onde o narrador sabia que ele estava e tinha ido para o cemitério. Um desfecho surpreendente e perfeito – e agora o narrador talvez precise esperar vários anos para a morte, já tendo perdido "a ilusão de ser eterno".
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