spoiler visualizarPaola 23/01/2024
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A obra se passa no Japão em uma ilha inventada; nessa ilha, a maioria das pessoas deve lidar com "sumiços", que são basicamente o desaparecimentos de conceitos da vida cotidiana como frutas, pássaros, chapéus, etc.
Entre essas pessoas vivem as que não esquecem. Essas são caçadas pela Polícia da Memória; que tanto mata essas pessoas como também tem certeza que as coisas sumidas não existam mais.
No começo não achei a história muito original. Parecia que seria algo como uma distopia, em que os diferentes eram condenados e deviam ser escondidos; o que já vi muito. Mas acabou não sendo tão previsível.
Primeiro que o livro não tenta te explicar os motivos para aquilo tudo. Em nenhum momento tenta explicar porque pessoas que não esquecem existem e porque existe uma Polícia para captura-lás (o que acaba sendo desnecessário, pois no final todos os que esquecem acabam morrendo de qualquer maneira).
Fica claro que a autora quer que nós tiremos nossas próprias conclusões, à custo de deixar partes de sua narrativa sem valor (como o que acontecia com os capturados, quem regia a ilha, como as pessoas passaram a aprender a esquecer, etc).
A única coisa que nos resta fazer as terminar a leitura é achar um sentido para toda essa loucura.
A primeira coisa que pode ser analisada é o uso do realismo mágico, pois muitos acontecimentos na ilha não possem explicação lógica (como o desaparecimento dos rosas ou das frutas, ou mesmo o fim das outras épocas do ano. Agora que penso nisso: as outras estações não existiam para quem não esquecia? Elas deixavam de existir para eles também?); em tese o realismo mágico resolve essas questões, mas ainda assim fica uma pequena dúvida se isso tudo não teria sido feito pela Polícia Secreta, pelo poder não comentado dela nesses aspectos.
Ao percebermos que a história se passa no Japão, toda o texto ganha novo significado. Em uma sociedade tão conservadora como o Japão, a ditadura é uma ameaça constante, e que pode com seu poder fazer desaparecer com qualquer vestígio do passado.
Sendo a protagonista mulher também é possível ver essa sociedade pela ótica feminina. O patriarcado e machismo em formas retrógradas nesse ambiente podem servir de amarras para mulheres que desejam ir além, de modo que relação dela com R e seu último romance venham a revelar esse quadro na obra.
No mais, o sumiço das memórias está relacionado ao sumiço dos valores; quando se esquece um evento horrível é esperado que ele se repita novamente no futuro. Todas as sociedades são vulneráveis ao desaparecimento da história e suas lições, seja por museus queimados ou livros censurados.
O livro possui muitas lições para quem quiser procura-lás, mas a escrita não me impressionou e eu terminei o livro esperando mais.
Não pretendo desenvolver, não sei explicar kkkkkk.
Enfim, é bom, mas não me impressionou.