Mariana 23/03/2022
Perturbador
Decidi reler esse livro, um dos meus favoritos de anos atrás. Confesso que me lembrava pouco da história, e no começo, me assustei: como um livro tão perturbador poderia ser um dos meus favoritos ao longo da minha adolescência?
Ao final consigo entender, e acredito que isso se deve principalmente a amarração da narrativa e ao fato dele ser extremamente bem escrito. Conseguimos entrar no mundo do personagem, sentir o que ele sente, pensar da forma como ele pensa, ver o mundo através dos seus olhos (excelente trabalho de tradução, inclusive!), mesmo sendo um mundo paranoide, perverso, revoltante, sujo, repleto de humilhações e abusos, que é o que vai levando o personagem à loucura, literal e visceral.
É perturbador estar dentro da mente de um esquizofrênico, nos confunde, nos irrita, dá um "nó na garganta" (tradução utilizada para essa mesma obra aqui no Brasil), e é triste demais. Não é uma leitura agradável, ela é pesada, difícil, nojenta, asquerosa, e por isso não é um livro a ser lido rapidamente, em momentos de descanso. Particularmente, quando eu o estava lendo, eu terminava suas páginas esgotada. Foi difícil reler, e não sei se repetirei essa experiência no futuro, pois é preciso coragem. Hoje, entendo os motivos dele ter sido um dos meus favoritos, mas confesso que ele não é mais, e acho que isso se deve ao fato de já ter estado com esquizofrênicos reais, atendendo-os em terapia. Sei hoje que essa experiência é bem mais complexa e difícil. Ainda assim, acredito que vale muito a pena experimentar a obra e refletir sobre a loucura, principalmente nessa edição, que conta com uma análise interessante do contexto da Irlanda ao final, país em que se passa a história.