Deskvice 05/10/2023
?Me diga tua relação com a dor, e te direi quem és?
Intrinsecamente importante para sociedade e deveras necessário. Han nos convida a olhar pela perspectiva da dor, e de como nossa sociedade vem se adoecendo e se auto destruindo cada vez mais. Um filósofo contemporâneo que nos convida a refletir sobre como a sociedade está anestesiada pelos prazeres curtos da vida que o social impõe, fazendo nos acreditar que é de escolha própria e nossa, um festim hedonista.
Ele fala em uma parte do livro que, a sociedade, ela domina de uma forma não como antigamente, com ?repressão explícita, negação e ditadura?, mas domina com a falsa ?liberdade? que é proposta para o indivíduo, o faz acreditar que as escolhas do seu consumo é de sua própria vontade, de uma forma disfarçada, a repressão totalitária e dominante é confundida com liberdade. Essa é a nova dominação do século.
Han cria e nos traz perspectivas a se pensar, e explorar sobre a necessidade de ver, como a ausência da dor constrói uma felicidade falsa e anestesiada, e que só através da dor que se pode conhecer o que é amar e entender o outro, sem a experiência da dor, não podemos nos colocar no lugar do outro, criando uma indiferença social, e nos fazendo pensar na individualização como algo bom, a sociedade atual prega e preza por uma positividade tóxica evitando a todo custo a sua negatividade, não se livrando da dor, e sim dos sintomas. O se livrar da dor, cria um indivíduo que acredita que está curado, mas está só se adoecendo de outras maneiras, piorando a situação que já estava, e prolongando o sofrimento. Pois só através da dor que é possível conhecer a felicidade.
Foi necessário milhões de pessoas morrerem com o vírus, para que a sociedade percebessem a dor? E só atingiu em sua grande maioria, quando os mesmos foram atingidos. Se pensarmos nisso, percebemos o quanto estávamos anestesiados com a ausência da dor, e com isso, percebemos o quanto ela foi importante para que pudéssemos ver, o quanto banalizávamos, tornando a dor do outro, algo sem sentido. Precisamos sentir na pele a morte de milhões de pessoas, de inclusive entes queridos para ver a necessidade de entender a importância sobre a dor, e que a empatia fosse criada nessas circunstancias, em um mundo que estava mais que anestesiado, e se foi preciso um pandemia pra isso, o quão doentes estamos pelos prazeres curtos? O quão narcisista a sociedade é, e nos tornou para sermos tão indiferentes com a dor do outro? Teve uma passagem do livro que me chocou muito que diz a seguinte coisa:
"Sem dor, nem amamos [geliebt], nem vivemos [gelebt]. A vida é sacrificada pela sobrevivência confortável. Apenas uma relação viva, um verdadeiro um-com-o-outro, é capaz de dor. Um um-ao-lado-do-outro sem vida e funcional não sente nenhuma dor, mesmo se ele desmorona. É a dor que distingue o um-com-o- outro vivo do um-ao-lado-do-outro morto."
E por fim finalizo com o último trecho do livro que achei deveras importante.
?A vida sem dor e com felicidade permanente não será
mais uma vida humana. A vida que persegue e expulsa a
sua dor suspende a si mesma. Morte e dor são inseparáveis.
Na dor, antecipa-se a morte. Quem deseja eliminar toda dor
também terá que acabar com a morte. Mas a vida sem
morte e dor não é uma vida humana, mas sim morta-viva. O
ser humano se desfaz, a fim de sobreviver. Ele alcançará,
possivelmente, a imortalidade, mas ao custo de sua vida.?