O cometa + O fim da supremacia branca

O cometa + O fim da supremacia branca W. E. B. Du Bois
Saidiya Hartman




Resenhas - O cometa + O fim da supremacia branca


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Lurdes 17/05/2022

Extra, Extra!!
Um cometa atingiu a Terra e não restou nenhum sobrevivente.
Ops!!
Restaram dois.
Um homem negro, chamado Jim e uma mulher branca, Julia.
Visualize a situação e tente imaginar o que pode acontecer.

O preconceito será banido e ambos irão conviver sem qualquer distinção de raça ou cor?

Os dois sobreviventes vão seguir separados por conta do racismo?

O que você acha que aconteceria em uma situação extrema como esta?

Pois Du Bois, neste conto de ficção especulativa, nos conduz em uma montanha russa de acontecimentos e sentimentos conflitantes e, tal qual um passeio de montanha russa, nossa experiência de leitura é rapida, intensa e causa euforia e mal estar.

A estória, escrita há mais de 100 anos, nos apresenta questões extremamente relevantes ainda nos dias de hoje.

Du Bois foi muito ousado e consegue nos emocionar profundamente ao expor, de forma crua, pensamentos e atitudes tão excludentes.

Esta edição traz ainda, como plus, um artigo escrito em comemoração ao centenário de O Cometa, de autoria de Saidiya Hartmann, intitulado O fim da supremacia branca.
Sua análise da obra é brilhante e intensifica nossa experiência de leitura e nosso desconforto com as situações relatadas.

Você pode ler rapidinho, porque tanto o conto como o artigo são curtos, mas tenho certeza que não os esquecerá tão cedo.
Com certeza uma das melhores leituras de 2022.
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Gabriela Costa | @leia_preta 26/06/2021

Um conto distopico sobre o fim do racismo
Dubois é com certeza um autor incrível, O cometa é um conto que narra a passagem de um cometa em Nova York que deixa apenas duas pessoas vivas: um homem negro e uma mulher branca. Em meio as questões de gênero e raça, as únicas duas pessoas vivas precisam uma das outras para descobrir o que houve e tentar achar seu entes queridos.

Nesse conto o autor ficciona o fim das barreiras raciais enquanto a humanidade deixa de existir. Será que isso é suficiente? Quais barreiras podem ou não ser rompidas? São algumas das questões que ele levanta.

Achei um ótimo conto e muito muito atual!
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Lucas Leite 14/06/2022

Atemporal
Essa obra dupla apresenta um conto distópico de Du Bois com uma análise crítica especializada muito bem construída. Mostra como mesmo no fim da civilização ainda permanecem narrativas cujas raízes estão fincadas no racismo estrutural e estadunidense.
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Kamyla.Maciel 28/02/2023

Espero que mais pessoas leiam esse livro!!!
Eu achei fantástico como um conto tão pequeno pode dizer tantas coisas. Imagine um cometa que mata todos em uma cidade e o sobrevivente é um homem negro. É um livro de década de 20, em um EUA extremamente segregado.

Não vou falar mais nada para não dar spoiler, mas o livro fala sobre racismo, sobre a formação da subjetividade da pessoa negra, sobre os espaços que são reservados aos negros, sobre a branquitude, sobre a liberdade em mundo em que ser negro já não o limitaria, já não seria um fator determinante para ser enxergado ou não.

É muito interessante também como o autor humaniza e desumaniza o personagem, ou como ele é visto pela sociedade, conforme o conto vai avançando. Se há pessoas brancas, ele é sempre visto como ?o outro?, desumanizado. Se já não há a branquitude que o coloque nesse lugar, ele se torna um ser humano e só. Acho que o autor questiona se seria necessário o fim da humanidade para então o legado da escravidão ser apagado?

O texto de apoio é muito bom! Achei um pouquinho viajante, mas a literatura permite isso né! Pega o conto e o explica, ressaltando pontos que eu, como leitora, não havia notado. Ela ambienta o autor, sua vivência e o conto.

Achei um livro muito interessante, até pela época que foi escrito e pela história inovadora. Mas, acho que é um livro que divide opiniões, talvez algumas pessoas não achem tão bom assim.

Infelizmente, o personagem principal, Jim, ainda está presente na sociedade, mesmo sendo um livro de 1920. Essa obra ainda fala sobre o Brasil e a sociedade de hoje?
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AurAlio.Nestor 14/08/2023

Um convite para refletir sobre a sociedade
Na obra "O Cometa: + o fim da supremacia branca", Saidiya Hartman estabelece um diálogo com o trabalho de W.E.B. Du Bois, proporcionando uma leitura que desperta uma variedade de sentimentos em seus leitores, especialmente aqueles que se identificam com os personagens principais.

O enredo do livro pode ser considerado complexo, uma vez que faz uso de diversas referências que podem passar despercebidas por aqueles que não estão familiarizados com elas, resultando na perda de detalhes importantes.

Refletir sobre o desfecho que não é conclusivo representa um desafio significativo, especialmente na indagação sobre a existência de esperança para aqueles que se dedicam à leitura da obra.
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Jessé Lebkuchen 25/04/2022

o cometa foi a minha primeira leitura do ano e posso dizer que foi uma boa entrada. escrito pelo autor e teórico estado-unidense w. e. b. du bois, que tem inúmeros textos sobre justiça social e racial, o conto retrata um mundo afetado por um cometa que destrói a cidade de nova york, em 1920, com apenas dois sobreviventes, um homem negro e uma mulher branca. apesar de ser uma narrativa bem curta, o texto consegue ser bastante duro, pensando que essa realidade narrada não é ausente no nosso contexto atual. ao retratar um mundo no qual não há o outro, onde as diferenças são diminuídas a um ponto de humanizar sujeitos (ou sujeito, no singular) antes nem marcados como identidades, como pessoas, du bois expõe a fragilidade e a hipocrisia do preconceito e do racismo social. acho que esse texto vale a pena, não só pela relevância, mas por ser uma narrativa que nos faz refletir, ver a si e ao próximo de uma forma mais sensível, questionadora. deixo aqui um trecho que me atingiu, de muitas maneiras: “olharam-se por um momento em silêncio. ela não tinha notado que ele era um preto. ele não pensara nela como branca. era uma mulher de talvez vinte e cinco anos - particularmente bela e vestida com requinte, de cabelos louros e joias. ontem, ele pensou com amargura, ela mal o teria olhado. ele não passaria de um punhado de sujeira sob seus pés sedosos. ela encarou-o. de toda sorte de homens que havia imaginado vir em seu resgate, não poderia sonhar com alguém como ele. não que ele não fosse humano, mas habitava um mundo tão distante do dela, tão infinitamente distante, que raramente fazia parte de seus pensamentos.”

site: https://www.instagram.com/literabora/
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bardo 30/12/2022

Um breve e perturbador conto que se torna ainda mais sombrio com os esclarecimentos do ensaio anexado nessa edição. Saidiya Hartman contextualiza e esclarece alguns pontos que ficam um tanto confusos na tradução do conto. Ela fará também a relação com outras obras ampliando o escopo da reflexão em torno do conto que por si só já é bastante abrangente.
O conto é simples, um enredo sem sofisticações, e com um núcleo até certo ponto previsível, o plot ainda que não perca sua força não é de todo inesperado. O que impressiona aqui, entretanto é o que não é dito diretamente, o autor constrói certas imagens, insinua outras, surpreende o quão rápido somos imerso na atmosfera proposta e é difícil não sentir certo desamparo.
Talvez o maior incômodo seja perceber como as dinâmicas propostas continuam atuais, fato inclusive apontado por Saidiya ao nos lembrar os paralelos da pandemia existente à época da escrita do conto e a pandemia de Covid 19.
Temos pelo menos duas cenas extremamente perturbadoras, sendo a segunda talvez a mais incômoda, o autor nos mostra uma idealização, que choca o leitor por seu disparate. É difícil não sentir um certo asco, não pela relação proposta em si, mas pelo absurdo que ela representa no mundo proposto (mundo não nos esqueçamos extremamente preciso e real). É quando o autor desfere o golpe ou aliás os golpes e o conto que já era cruel torna-se ainda mais devastador.
A conclusão talvez pareça enganadoramente otimista, ok de fato existe um débil consolo, mas os elementos propostos estão muito longe de um final feliz. Pode-se inclusive pensar numa subversão de símbolos. O corte abrupto deixa para o leitor especular os efeitos deixados pelo cometa, mas o clima de desamparo e pessimismo é evidente.
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Ismael.Chaves 18/10/2023

Um "episódio perdido" de Além Da Imaginação
Em 1919, um evento conhecido como "Verão Vermelho" marcou todo um contexto de expansão e de atrocidades coloniais. Mulheres, crianças e homens negros foram assassinados, linchados, mutilados e queimados vivos nas ruas de East St. Louis, em Illinois, depois que, numa tarde de julho, quatro meninos em uma jangada no lago Michigan foram parar em "águas exclusivas para brancos" e acabaram provocando a ira e a retaliação de camaradas brancos, rapidamente transformados em uma turba voraz que matou um dos meninos e saiu em missão de matar, mutilar e ferir qualquer negro que cruzasse seu caminho.

Nesse clima, em 1920, o escritor, historiador, filósofo e ativista W.E.B Du Bois escreveu "Darkwater", um livro que reúne histórias, ensaios, poemas, orações, canções, parábolas e louvores - um inventário da violência (que estuda a branquitude, os linchamentos, a servidão, as guerras imperais, a condenação das mulheres negras, o colonialismo e a predação capitalista, bem como s beleza, o acaso, a morte o sublime). Uma coletânea que oscila entre a raiva e o desespero. "O Cometa" é o penúltimo capitulo do livro.

Nesta breve ficção especulativa, Du Bois retrata uma Nova York vazia após a passagem de um cometa misterioso que mata todos os habitantes da cidade. Sobrevivem apenas Jim, um homem negro, e Julia, uma mulher branca. A partir desse plot, o autor abre uma possibilidade de reflexões e interpretações sobre o conceito de raças no mundo. A história tem uma atmosfera da série clássica Twilight Zone e, de certa forma, apresenta um protagonista negro em meio um cenário pós-apocalíptico décadas antes do filme "A Noite dos Mortos-Vivos" de George Romero.

A edição da Fósforo celebra o centenário da publicação de “O cometa”, incluindo o ensaio "O Fim da Supremacia Branca" de Saidiya Hartman, professora de Columbia e nome fundamental do pensamento negro contemporâneo, em que ela comenta a atualidade do conto e situa o pensamento de Du Bois no centro do debate racial contemporâneo.
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Infinita Ishtar 19/03/2022

Fascinante
Já tinha ouvido falar de DU Bois quando li Angela Davis mas não imaginava que ele era um escritor (e não apenas isso) tão brilhante.
Com imensa bagagem cultural, DU Bois escreve, em "O Cometa" (penúltimo capítulo de "Darkwater", como descobri depois), uma história ficcional interessantíssima sobre um homem negro e uma mulher branca num fim de mundo abstrato.
As questões de raça e classe são visivelmente expostas na obra mas são detalhadas com fervor em "O Fim da Supremacia Branca", um tipo de análise historica feita pela escritora Saidiya Hartman, que escreve de forma didática sobre todas as referências e sobre o contexto histórico de "O Cometa".
Curtinho, o livro é informativo e gostoso de ler (apesar de "O Fim da Supremacia Branca" trazer consigo alguns momentos trágicos e absurdos).
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Licia Maria 15/12/2023

Eu sempre acho muito curioso como os livros antigos se mantém tão atuais e parece que ninguém se incomoda...
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Maria 05/04/2024

O livro é muito bom e super rápido de ler, tem o conto e depois do conto uma análise sobre ele. O conto é bem forte e trás muitos significados e simbologias que a princípio eu não peguei, mas que a análise levanta e são muito interessantes e necessários.
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Letícia 30/05/2023

Curtinho... Porém com reflexões super necessárias acerca da branquitude e do lugar onde o negro é posto na sociedade. Amei o fato de ser trazido uma curta ficção, e posteriormente os comentários acerca de alguns trechos.
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Frederico 10/01/2022

Belo conto
Conto fantástico. Frio, misto de ficção, crítica social e drama. Cortante e bem escrito. Vale muito a pena.
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Rafael Mussolini 21/04/2022

O cometa
"O Cometa" do W.E.B. Du Bois (Editora Fósforo, 2021) é um conto escrito há mais de cem anos e que nos surpreende tanto pela coragem ao tratar sobre as questões das classes sociais e do preconceito racial, como pelo fato de ainda se encaixar com a realidade que vivemos hoje. Du Bois conta a história de um homem negro chamado Jim que realiza trabalhos subalternos em um banco e que um dia, após ser enviado para executar mais uma tarefa “perigosa demais para homens valiosos”, ao voltar se depara com o silêncio de um mundo morto. Um cometa passou muito próximo da Terra e ao soltar seus gases, aparentemente matou a todos. Quando começa a pensar que é o único sobrevivente, uma mulher branca cruza o seu caminho e os dois passam a caminhar juntos pela própria sobrevivência e para descobrir o que acontecera com os seus.

A edição da Editora Fósforo transformou “O cometa” em uma publicação única. A obra vem acrescida de um ótimo texto da professora de Columbia Saidiya Hartman, que com uma espécie de artigo analisa o conto de Du Bois e ajuda a ampliar nosso olhar e compreensão. Hartman não chega para explicar o conto e sim para contextualizar o momento em que o mesmo fora escrito e o quanto ele está permeado de denúncias sobre a violência da segregação racial americana.

“O cometa” não cita especificamente os acontecimentos históricos em relação aos conflitos, mas utiliza de simbologias que transportam para a narrativa a tensão social da época. Os EUA haviam testemunhado recentemente um período transcorrido entre os meses de abril e outubro de 1919, chamado de “verão vermelho”, durante o qual se abateu enorme violência contra os negros americanos. “Vermelho” representando o sangue dos negros que foi derramado nesses meses.

O conto demarca muito bem o lugar que Jim ocupa na sociedade enquanto homem negro. Uma estratégia interessante de Du Bois é que ele utiliza a palavra “negro” ou “homem negro” em momentos muito propícios do texto. Na maioria das vezes ele transmite ao leitor a mensagem de que se trata de um homem negro pela forma como ele é tratado, pela forma como ele é visto pelas outras pessoas e até por ele próprio. O texto carrega uma sensação de não-lugar, de invisibilidade e de explosões de violências que ajudam a demarcar o racismo em um tempo e um espaço.

No início do conto já percebemos que as pessoas estavam cientes do tal cometa que se aproximava, e como já era de se esperar pairava no ar um descrédito, uma falta de crença na verdadeira proporção que tal evento poderia tomar. E de repente, pouco antes do meio dia o fato é consumado. A cidade de Nova York é dizimada e Jim só se dá conta ao retornar dos subterrâneos do banco, lugar em que estava no momento do desastre.

A partir daí a história se torna uma grande metáfora sobre a condição das pessoas negras diante do racismo em uma ficção especulativa muito bem construída. Du Bois faz isso de forma totalmente literária, utilizando de forma inteligente da ficção para falar sobre uma realidade assustadora. O cometa e a morte das pessoas é o que propicia a Jim alguma sensação de vida negra livre. É apenas quando as pessoas e, portanto, a sociedade morre que Jim se vê com a permissão de transitar pela cidade sem se preocupar com um olhar de raiva ou desprezo, sem ouvir um comentário maldoso ou de asco, sem o medo de sofrer uma agressão física na próxima esquina. É quando também Jim se vê autorizado a caminhar por onde quiser e acessar lugares da cidade em que jamais poderia entrar.

"Sabia que deveria ficar firme e manter a calma, caso contrário enlouqueceria. Primeiro, devia ir a um restaurante. Subiu pela Quinta Avenida até um hotel famoso e entrou por seus salões deslumbrantes e fantasmagóricos. Lutando contra a náusea, tomou uma bandeja de mãos defuntas e apressou-se para a rua, onde comeu vorazmente, escondendo-se para não ser visto. ‘Ontem eles não teriam me servido”, murmurou, enquanto se esforçava a comer."

Logo Jim se depara com Julia e salva sua vida. Mais uma vez o autor explora a discussão sobre o racismo, só que agora através da investigação do olhar de uma outra pessoa sobre a figura de Jim.

Julia se vê diante de um homem que não fazia parte de seu mundo e que raramente ocupava sua mente como a representação de um homem. Hartman diz brilhantemente no texto “O fim da supremacia branca” que para Julia “ele era alguma coisa a mais que um desconhecido.” Ao mesmo tempo o próprio Jim, ao se deparar com um mundo aparentemente desprovido da violência usual chega a proferir em um diálogo com Julia: “Sim. Ontem, eu não era humano”. E Hartman segue no texto de análise com a provocação de que somente no fim do mundo a negritude consta como vida e o negro como humano.

Para além da ótima narrativa de “O cometa” e da charmosa edição da editora Fósforo fiquei com uma grande curiosidade em conhecer mais sobre vida e obra do W.E.B. Du Bois, uma personalidade que já ousava a falar sobre racismo em uma sociedade que se valia praticamente do direito de violentar a população negra num grau ainda maior que o de hoje. Du Bois foi sociólogo, historiador, ficcionista, poeta e editor, além de um importante ativista pela igualdade racial.

site: https://rafamussolini.blogspot.com/2022/04/o-cometa-do-w.html
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Rafael 14/05/2022

Restos de um futuro eclipsado
Era mais uma manhã em que Jim Davis, um jovem negro e forte, sentia-se "um nada!" (p. 11), quando seu patrão lhe ordenou que fosse até as câmaras subterrâneas do banco, um lugar fétido que ninguém gostaria de ir. Mas foi por estar nesse espaço que justamente a vida de Jim foi preservada do cometa que acabara de atingir Nova York.

Para a surpresa dele, não havia mais sobreviventes na cidade, salvo Julia, uma mulher branca e rica que ele encontrara aterrorizada. Na nova conjuntura, ao unirem esforços para, sem sucesso, reencontrar parentes e conseguir ajuda, ambos se aproximam cada vez mais, algo antes impensável para pessoas de mundos tão distintos (p. 21).

Aos poucos, Julia reconhece a humanidade de seu companheiro (p. 34), que passa de criatura inferior a um ser glorificado (p. 35). Em igual sentido, Jim, por sua vez, deixa os grilhões de sua alma caírem e assume uma "majestade única de reis há muito mortos", não mais se vendo como um "punhado de sujeira" ou pertencente a uma "classe indigna, destruída e servil" (p. 36).

Entretanto, esse clímax é interrompido por um novo evento, que restaura a ordem anterior. Jim volta a ser "um crioulo!" (p. 41), então.

Como penúltimo capítulo do livro "Darkwater" (1920), publicado logo após a pandemia de gripe espanhola (1918) e do "Verão Vermelho" (1919), período em que muitos atentados e linchamentos foram cometidos contra a população negra (p. 55), "O cometa", de W.E.B. Du Bois, pode ser considerado um marco do que se convencionou chamar de "afropessimismo".

De acordo com Saidiya Hartman ("O fim da supremacia branca", 2020), embora Du Bois particularmente nutrisse certa esperança de reconstrução do mundo (p. 59), por meio de "O cometa", uma ficção especulativa e uma sátira da democracia falida, ele revela um curioso paradoxo: o jugo da supremacia branca parece tão invencível que só encontraria uma derrota garantida no fim do mundo, já que nem guerras nem direitos foram bem-sucedidos em devolver ao escravizado a condição de humano ou em erradicar o racismo (p. 60-61).
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