Maria @booksofmary 26/06/2022
Gostei bastante, mas tinha potencial para ser mais
Esse livro conta a história de Margaret, uma moça que é filha de uma grande alquimista, mas que passa a maior parte dos seus dias sozinha no casarão decadente da família em Wickdon, uma cidadezinha costeira de New Albion; e a história de Wes, um rapaz da capital, que vem de uma família imigrante de outro país chamado Banva e que chegou na cidade na esperança de que a mãe de Margaret o aceite como seu aprendiz, justo no momento em que o hala, o último dos demiurges, aparece na cidade e os moradores começam a se organizar para caçá-lo.
Esse foi um livro com uma história muito criativa e que realmente prende o leitor, mas que precisava ser melhor desenvolvida em alguns pontos, pois a autora deixa pedaços de informações muito soltas durante o livro e cabe ao leitor tentar entender a mitologia que ela criou ao juntar esses pedaços.
Mas no geral, é um livro de fantasia que se passa entre as décadas de 30 e 40, mais ou menos, pois é uma história de época com essas características e que tem tecnologia até certo ponto, em um mundo que se parece muito com o nosso, mas não é (parecido com o que acontece em "A Bússola de Ouro"), que passou por uma grande guerra mundial, depois da qual o país de New Albion recebeu muitos imigrantes de culturas e, principalmente, religiões diferentes. O que claramente é uma alusão ao período da segunda guerra e a intolerância religiosa do nosso mundo. Essa parte realmente foi bem feita, a autora mostra de forma interligada nos acontecimentos da história, através dos pontos de vista alternados de Wes e Margaret, como o preconceito que sofrem agrava muito os problemas pelos quais eles já passam.
A confusão do livro se dá mais na parte da explicação dessas religiões e suas relações com o hala e a magia desse mundo. Pois vemos logo no início que a religião predominante de New Albion é a "Katharist", que pelas explicações bem básicas e espalhadas do livro sabemos que possui igrejas com padres, sem muitos ornamentos na sua arquitetura e que não possui santos em sua religião, mas que por sua vez existem na religião "Sumic" de Wes e sua família, que seguem o Papa que mora em uma espécie de Vaticano, e por fim a religião "Yu'adir" da família de Margaret que sofre o estereótipo de se preocupar muito com dinheiro e estar por trás de supostas maquinações econômicas.
Essas religiões são importantes na história não apenas para mostrar como o preconceito interfere no desenvolvimento dos personagens e dessa sociedade, mas também para explicar o plot central da história que gira em torno da caçada ao hala, já que cada uma dessas crenças possui uma história diferente para explicar a existência dos "demiurges", essas criaturas mágicas em forma de animais, que aparecem nas cidades colocando medo na população, que passou a caça-los ao longo dos séculos e a muito custo exterminá-los, sobrando apenas um deles, o hala, uma raposa branca que começou a fazer aparições em Wickdon.
No geral entende-se que para os Sumic, eles são sagrados e meio folclóricos, aparecendo em histórias infantis como um bicho-papão; para os Yu'adir eles também são sagrados, mas de uma forma divina, como se fossem parte de Deus, já para os Katharist, eles são como demônios, e o país faz da caçada uma grande celebração, um evento tradicional de sua cultura, atraindo pessoas de várias cidades diferentes, pois além do generoso prêmio em dinheiro para o vencedor, existe toda uma glória ao ser aquele a matar o hala e "salvar" a população, entre outras coisas que não posso mencionar.
E para alcançar os próprios objetivos, Margaret e Wes irão se juntar para tentar participar da caçada, já que é necessário uma dupla, um caçador e um alquimista, para conseguir encontrar e matar o hala. A caçada em si, preciso avisar, demora muito pra acontecer, os personagens passam a maior parte do livro se preparando e passando por provas para conseguir participar, pois a magia desse mundo se dá pela alquimia, que acontece através do desenho de círculos e símbolos químicos para conseguir as reações desejadas, parecido com os sistemas de magia de "Atelier of Witch Hat" e "The Rithmatist", e eles precisam se provar capazes. No geral, a parte fantástica é bem interessante e criativa, mesmo com as explicações precisando de um desenvolvimento um pouquinho melhor, acho que essa parte da história foi legal, mas tinha potencial para ser bem mais.
Porém, mesmo tendo gostado da parte fantástica, a parte da construção dos personagens foi o que me prendeu nesse livro, as questões pelas quais tanto o Wes quanto a Margaret passam são muito críveis e é perceptível o quanto eles crescem durante o livro, a autora soube fazer dois personagens que precisavam seguir em frente e lutar por algo melhor mesmo carregando suas responsabilidades, medos e dores. Gostei das histórias individuais deles e da que constroem juntos, o romance do livro é bem slow burn e fofo, me fez torcer muito, também gostei dos personagens secundários, simplesmente amei a familia do Wes e acho que as questões do Jaime e da Annette foram bem encaixadas ali.
A parte do preconceito também foi muito bem construída durante a história e me fez sentir junto com eles. Acho que a autora conseguiu passar bem a mensagem do livro de que todos temos luz e trevas dentro de nós, e de que, ao não definir na história qual das explicações é a "certa" para o hala, ela ressalta que em questões, como religião e cultura, não existe uma certa e outra errada, que temos que conviver em harmonia e respeito pelas diferenças. Gostei também do clima gostosinho meio vintage, meio folk, de cidade pequena da história, que foi bem transmitido pela capa linda desse livro.
Realmente, como disse antes, em relação a mitologia e construção de mundo, alguns pontos ficaram soltos e precisavam de uma revisão melhor, serem mais desenvolvidos e organizados, existe também um ou outro detalhe que não posso falar sem dar spoiler, mas os personagens e suas histórias fazem essa leitura valer a pena, esse é um daqueles livros que a gente gosta, mesmo sabendo que tem defeitos, por isso dei 3,5 estrelas, mas vou guardar uma boa memória dessa leitura.
OBS: Tem uma cena hot no livro! Acho que a leitura deve ser +16 ou +18.