Rodrigo 15/08/2023
A última fronteira
Eis aqui um livro interessante e incomum, onde, a cada capítulo, o autor investiga um tipo de atividade criminosa cometida em alto mar, normalmente invisível aos clientes de restaurantes japoneses. Os relatos mais pesados giram em torno da rotina de bordo em barcos de pesca asiáticos, em situação análoga à escravidão, mas o livro também vai abordar o périplo de clandestinos nos porões de navios, pirataria na Somália, disputas no campo do direito marítimo e muitos outros temas.
Há um capítulo especialmente atual e relevante ao Brasil, apesar de relatar fatos ocorridos em 2016. O autor embarca num navio do Greenpeace em Macapá, a fim de estudar os impactos decorrentes da possível exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. Até então, não havia lido nada a respeito sem algum viés ideológico, e foi curioso acompanhar as reações de autoridades, incluindo políticos e marinha, na iminência de um estudo aprofundado sobre a biodiversidade local, feito por ONG estrangeira e com poder de atrair a opinião pública e de levar o IBAMA a negar a licença, o que realmente aconteceu posteriormente.
Contudo, o livro possui 2 grandes poréns. O primeiro, por se tratar de um livro de nicho. Acho que 90% dos leitores que já o encararam são pessoas com profissões ligadas ao mar, e a minha impressão se basea por pensar que um leitor comum dificilmente se interessaria por temas tão específicos.
O segundo é que o autor, como profissional de imprensa, poderia ter economizado bem umas 100 páginas do livro, porque sempre se excedia em explicações que corriam paralelas ao tema. Junte-se a isso o fato de que o tamanho da fonte não favoreceu este leitor cegueta que vos escreve, e eis o porquê de tê-lo começado em 2022 e só estar acabando agora.
Fora isso, o autor abriu a minha mente para uma infinidade de circunstâncias terríveis no alto mar, último ambiente ainda não 100% estudado pela ciência. E sim, sou um dos que possuem ligação com temas marítimos, por isso me senti como se vivendo na pele cada situação, apesar de, ao mesmo tempo, sofrer com o excesso de páginas. O saldo foi positivo, só não acho que vai agradar a todos, ainda que torcendo pra estar errado.