Carla.Oliveira 08/06/2021
Podia muito mais, porém....
Nosso Último Segredo traz um romance clichê daqueles bem gostosinhos de acompanhar. Trama envolvente, casal com bastante química e um realismo nas partes em que a rede social marca presença para retratar um universo dos fandons de casais. Eu ri bastante nesses momentos porque retratou de forma excelente, o comportamento dessa comunidade me trazendo para o tempo em que eu fazia parte dessas teorizações românticas.
No geral, eu gostei do livro, mas devo apontar que algumas coisas me incomodaram muito, principalmente na escrita desaranjada onde não há uso de conjunções para unir boa parte das orações deixando-as soltas em parágrafos desnecessários à narrativa empobrecendo a escrita e a leitura, assim como os furos gritantes no roteiro e o uso ostensivo de termos capacitistas como imbecil e cretino.
Alguns diálogos são robóticos e sem profundidade deixando as coisas tão mal resolvidas quanto desprovidas de qualquer sentimento e que estavam ali apenas para cumprir o papel de fazer o enredo andar. À exemplo temos a personagem Michael que carrega um enredo próprio muito interessante para ser explorado mas que contém a profundidade de um pires quando deveria ter sido bem melhor explorado ao menos em sua relação com a protagonista. Seus diálogos não possuem um pingo de emoção cchegado a beira a total infiferenca e sao tão mal acabados e sem valor específico que, por diversas vezes senti que ele, aparecer ou não nas cenas não faria a menor diferenca para o enredo e isso é um grande desperdício porque seus dilemas enriqueceriam a história por demais já que ele está diretamente ligado ao casal. Como nâo foi o casp, senti que a autora poderia muito bem dar suas falas a outra pessoa que não faria diferença alguma, tamanha a falta de nuances da personagem.
Eu particularmente, achei bem mais interessante ler sobre o passado deles do que o presente porque senti mais empenho na autora em se aprofundar nas próprias personagens nessa fase do que na atual, que também não mostra o amadurecimento que as personagens obtiveram ao longo dos anos separados de uma forma mais concreta. Você apenas lê sobre esse processo, mas há poucas ações que demonstram essa mudança.
Outro ponto que precisa ser melhor trabalhado é a organização da quebra da linha temporal que por algumas vezes , principalmente no início, confundem o leitor, assim como algumas situações no roteiro que tiram a veracidade da história como por exemplo: a cena da certidão de nascimento da pequena Ruby.
Não tem como, no mundo real, a protagonista dar a certidão da filha já com o sobrenome modificado ao pai em um espaco de tempo tão pequeno e ainda mais durante as festas de fim de ano porque geralmente nessa época do ano, esses tipos de serviços entram em recesso e mesmo assim, já há uma série de burocracia para uma mãe registrar um filho sem a presença do pai como uma declaração deste afirmando ser a criança, sua filha ou a certidão de casamento, duas coisas que a narrativa mostra claramente que ela não possui, imagina o processo de mudança de sobrenome e partenidade?
Essas pequenas licenças poéticas parecem sem importância , mas tiram a veracidade da história e você passa a se importar muito pouco com os eventos que levam à imersão na história porque é tudo muito fora da realidade para ser levado a sério.
Outro ponto delicado é a motivação da Gillian a voltar a se envolver na adaptação depois de tudo porque simplesmemte não há qualquer motivação porque a autora não desenvolveu a personagem como deveria, tanton que, quando perguntada pelo marido do porquê de ela ter aceitado participar do filme, ela ao menos soube explicar e essa ausência de amarração fragilou todo o enredo porque se sua personagem não possuir uma motivação que convença o leitor, nada na história terá credibilidade. E isso se ressolve através de uma boa betagem ou até mesmo revisão. Inclusive, vai uma dica: um motivo que cairia bem para a personagem seria ela ser obrigada a fazer o filme porque possuia um contrato com o estúdio que acordava na sua participação em um número x de projetos e que possuísse além de uma multa abusiva, a capacidade de ela melar com sua carreira na indústria . Muitos atores as vezes são obrigados a fazer certos trabalhos por conta de contrato. Uma leve pesquisada teria solidificado maravilhosamente a motivação da Gillian, mas infelizmente não aconteceu, transformando a personagem fragil e totalmente incoerente pois não há nada para justificar sua aproximação com o cara que ela precisa manter distância e muito menos, sua quebra na decisão de tirar um tempo para cuidar da filha.
Tem muito mais furos na histórias , porém não da para elencar aqui. No mais, é um livro que tem potencial, pois há passagens interessantes, mas muito frágil em vários pontos e que precisa muito de uma boa revisão estrutural não só no roteiro como em alguns pontos da escrita.