Fernanda631 21/01/2023
A Megera Domada - William Shakespeare
A Megera Domada foi escrito por William Shakespeare com data da primeira publicação em maio de 1594.
A grande maioria das peças tem uma riqueza não apenas literária, mas filosófica, psicanalítica e política. Shakespeare foi, sem dúvida alguma, ao lado de Miguel de Cervantes, o maior poeta da literatura mundial.
O prefácio já avisa para abrir a mente e deixar as críticas para outro momento. Como ele alerta, a história se passa no século XVI e, como tal, retrata os costumes da época. Isso quer dizer que as mulheres eram tratadas como mercadorias ou facilitadoras de negócios. Casamentos eram realizados sem o consentimentos delas, ou seja, elas não tinham opinião na sociedade (nem mesmo na própria casa).
No século XVI uma mulher, especialmente da alta sociedade, para ser considerada virtuosa deveria ser calma, paciente e obediente ao pai e ao marido.
O livro se inicia com uma peça dentro da peça:
Um nobre decide pregar uma peça em um homem bêbado chamado Christopher Sly, que se encontra dormindo em frente a uma taberna, e manda seus serviçais colocá-lo dentro da carruagem e levá-lo ao seu castelo. Lá, deveriam dar um banho, vesti-lo como um homem rico e lhe dar o melhor aposento. Tudo isso para que quando o homem acordasse, não pudesse entender o que estava acontecendo.
O rico ordena que todos o tratassem como um verdadeiro nobre e até mesmo um dos empregados estava vestido para parecer uma esposa. Depois de um tempo, o homem estava quase acreditando que realmente era um homem rico e que tudo o que vivera até então era apenas um pesadelo. Com a chegada de um grupo de um grupo e artistas, o verdadeiro nobre ordenou que realizassem uma apresentação para Sly, com o intuito de observá-lo sendo enganado e tirar sarro de toda aquela situação.
E é então que a história da megera realmente começa. A história inicia com o Sr. Batista que possui duas filhas, Catarina e Bianca. Enquanto Bianca é graciosa, delicada e com muitos pretendentes, Catarina é conhecida como demônio de saias, devido ao temperamento da moça. Batista deseja casar suas filhas mas seguindo a ordem de idade, ou seja, primeiro deve casar Catarina e depois Bianca.
Seu nome é Catarina, uma mulher totalmente diferente das demais “donzelas” de sua época. Ela possuía fortes opiniões, bastante rude e com a certeza que não queria se casar. Quem estava chateada com essa situação toda, era sua irmã mais nova Bianca, que possuía muitos pretendentes. Mas o pai delas só permitiria Bianca se casar após Catarina arrumar um marido.
Lucêncio, filho de um mercador conhecido e bastante abastado, chega até a cidade de Pádua para estudar na universidade, juntamente a Trânio, seu devotado criado. Ao caminhar pela rua comercial da cidade, Lucêncio percebe a jovem mais bela, meiga e doce que ele já havia visto, a jovem Bianca.
Ela estava andando com outra moça e um homem corpulento e mais velho, Baptista Minola, o pai das duas. Atrás deles, vários rapazes protestavam contra Baptista, tentando conseguir com que ele deixasse Bianca se casar. Baptista gritou que qualquer um que quisesse se casar com Catarina que o fizesse, pois Bianca só se casaria depois que sua irmã mais velha estivesse casada.
Com isso, quase todos os homens desistiram, pois conheciam muito bem Catarina e sua personalidade nada agradável. Porém, dois dos pretendentes ainda queriam insistir em Bianca e fizeram um trato de arrumar um marido para Catarina e tirá-la do caminho.
Os pretendentes de Bianca ficam preocupados com isso, assim, eles vão até Petrucchio, um homem rústico, e oferecem a mão da moça temperamental como pretendente. Como a família dela era bastante rica e Petrucchio estava querendo aumentar suas riquezas, ele aceita a proposta e vai até Pádua para tomá-la como esposa. Enquanto isso, Lucêncio acaba trocando de lugar com Trânio, seu criado, e se passa por um professor de línguas, para aproximar-se de Bianca.
Os pretendentes de Bianca decidiram empurrar Petrúquio para Catarina, que aceita a missão na mesma hora em que soube que a família Batista era muito rica e possuía muitas propriedades (nessa época, o noivo recebia dote da família da noiva para que o casamento fosse realizado). Petrúquio é um homem rústico, mal educado, mas muito inteligente e determinado.
O primeiro contato entre Catarina e Petrucchio foi bastante bizarro, ela arremessa um objeto nele em poucos minutos de conversa, quando ele tenta beijá-la. A partir disso, o livro desenrola a história entre os personagens e o durão Petrucchio tem como missão domar a marrenta Catarina, enquanto o apaixonado Lucêncio faz de tudo para conseguir ser notado pela amável Bianca.
Como esperado, Petrúquio consegue se casar com Catarina, deixando Bianca livre para seus diversos pretendentes.
O livro é proposto como uma peça de teatro, assim, poucas descrições físicas dos personagens são realizadas e o diálogo é assíduo. O livro é um deleite, pois a história é bastante divertida e agradável, fluindo com muita rapidez e facilidade.
Ao final do livro, alguns questionamentos acabaram inquietando minha mente, o primeiro quanto à história de Sly que infelizmente não é finalizada, o livro simplesmente acaba e me deixou curiosa quanto ao desfecho. Logo depois de uma breve pesquisa na internet, descobri que, a princípio, o desfecho existia, porém o texto acabou se perdendo com o tempo.
Outra situação foi quanto ao desfecho da história de Catarina, pra que ela o obedeça, faz coisas como deixá-la sem comer e sem dormir, e, após passar por poucas e boas na mão de Petrucchio posteriormente ao casamento, mostra-se totalmente submissa ao homem. Catarina é “domada” através das loucuras que Petrúquio realiza, variando, desde de vergonha em público até mesmo jejum forçado.
Uma das maiores ironias é a suposta submissão de Catarina, onde supostamente essa submissão ficaria claro na fala de Catarina na última página: “E, quanto mais queremos ser, menos nós somos. Assim, compreendido o inútil desse orgulho, devemos colocar as mãos, humildemente, sob os pés do senhor. Para esse dever, quando meu esposo quiser, a minha mão está pronta”.
Esse final demonstra bastante machismo, porém, ao final nos é revelado uma ironia, quando Petrucchio exclama “Estou assombrado minha senhora, está domada!” e dá a ela uma ordem de ir para a cama. Catarina obedece e diverte-se “Ah, o poder… Quanta ilusão!”. O que acabou deixando um sabor agridoce.
Catarina nunca fora domada de verdade, ela apenas fez o marido e os demais homens acreditarem que ela iria se submeter. Isso a diverte em total absoluto.