Aninha 11/04/2022Uma Mulher Em Sua Própria BuscaA autora cria uma estória narrada pela protagonista Ana com inserção da presença dela em acontecimentos bíblicos, o que pode gerar incômodo para alguns leitores. Como escreveu a autora, o livro (aspa) sai das caixinhas eclesiásticas tradicionais (aspa).
Ana é a esposa ficcional de Jesus. O Jesus deste livro é descrito como um humano comum que trabalha para sustentar a mãe e os irmãos após o falecimento do pai, ele não é como o ser glorificado descrito na Bíblia. O destaque do livro está na presença das mulheres que permeiam o livro. (aspa) E se o homem mais famoso do mundo tivesse se casado, como seria sua esposa? (aspa)
Desde muito cedo Ana aprendeu a ler e escrever graças ao consentimento do pai que contratou um tutor para ensiná-la. A mãe era contra, pois as mulheres que escreviam eram somente as pecadoras e as necromantes. Ana aprendeu a escrever em aramaico, grego, hebraico e latim.
Durante a juventude Ana conhece Jesus e se apaixona, ela proveniente de uma família rica vai morar com Jesus e sua família em uma casa simples. Quem acompanha a protagonista durante toda a trama é sua tia Yalta, uma mulher que sofreu injustiças e foi excluída da sociedade. Yalta trata Ana com grande amor e carinho, são praticamente como mãe e filha. E a tia, ao invés da mãe, compreende e incentiva todos os anseios da sobrinha.
Naquela época uma mulher era considerada boa se fosse silenciosa, obediência e subserviente ao marido. Ana não era dessas, sua personalidade forte, independente e inteligente chamou a atenção de Jesus desde o momento que a viu pela primeira vez. Jesus chama carinhosamente Ana de Pequeno Trovão, pois ela (aspa) segue seus anseios atrás da grandeza dentro de si. Uma mulher capaz de se tornar não apenas esposa de Jesus, mas sua parceira (aspa). Jesus ama Ana de tal maneira que compreende os seus anseios assim como respeita suas escrituras sem julgá-la, censura-la ou puni-la.
Ana é considerada uma transgressora de gênero, sempre questionadora ao que lhe parecia injusto ela quer dar voz as mulheres que foram silenciadas. Então nas folhas de papiros ela escreve as histórias de mulheres que foram injustiçadas, escravizadas, violentadas, mutiladas e silenciadas pelo seguimento religioso. Mostrando que nenhuma delas eram pecadoras e merecedoras da violência que sofreram.
A história de Ana é sensacional daquelas que dá um aperto no peito quando o livro termina. Acredito que muito da força da protagonista veio da sua tia Yalta, outra mulher de grande sabedoria e que mereceu ter a voz registrada no papiros de Ana. Se alguém me perguntar se gostei do livro, eu digo que amei o livro e não foi pouco não.
(aspa) Onde mais eu poderia viver de acordo com o que dizia meu coração? (...) Quando eu for pó, entoe estas palavras sobre meus ossos: ela foi uma voz. (aspa)