2666

2666 Roberto Bolaño




Resenhas - 2666


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Giovanni.Cardozo 05/11/2023

Uma jornada monumental
O livro trata, através de 5 pontos de vista diferentes, os temas da arte, loucura, irrealidade, indiferença e violência.

A parte dos criticos: Aqui acompanhamos quatro críticos literarios que dedicam sua vida, tanto acadêmica quanto pessoal, aos estudos da obra de Brenno Von Archimboldi. Ao acompanharmos a jornada desses personagens, Roberto nos convida a questionar até que ponto a arte deve ser destrinchada e analisada. As infinitas palestras e teses feitas pelos críticos, no final, mais fazem eles se distanciarem do verdadeiro poder que os livros de Archimboldi podem exercer sobre o leitor do que aproximar. Outro tema interessante, que conecta com a parte 2, é que não é possível achar uma fórmula lógica para analisar arte como um todo. Quanto mais os críticos se distanciam da visão acadêmica e se aproximam de um olhar pessoal para as obras do autor alemão, mais eles conseguem auto refletir e encontrar a felicidade que tanto desejavam.

A parte de Amalfitano: Aqui vemos uma descida à loucura de um homem que tentou entender o mundo e as relações humanas através de lógica e sentido. Como na parte anterior, em que a análise puramente acadêmica de uma obra de arte não leva ao seu entendimento, aqui vemos que entender o mundo pela pura lógica leva à loucura. Amalfitano, para mim, é o melhor personagem justamente por perder essa batalha. Ao perceber que tudo que ele viveu, sua esposa, sua filha, seu emprego, não tem sentido, a loucura toma posse de seus pensamentos e, assim retorna ao inicio do argumento ao ter conciência de que, ao não ter capacidade de entender a realidade, ele a compreendeu.

A parte de Fate: Aqui o tema da arte sai de cena e a irrealidade e violência entram. Ao acompanhar um jornalista negro que cobre uma luta de Boxe na cidade de Santa Teresa, vamos acompanhar como o mundo real pode se tornar um pesadelo vivo. Aqui vale destacar que a cidade de Santa Teresa é, em si, um grande personagem. Ela exerce um papel extremamente importante na trama, porém não irei detalhar aqui para que a resenha não se extenda. Na parte de Fate, questões sociais como racismo e desigualdade social são abordadas aliadas ao temas supracitados. Nessa parte o autor nos surpreende com sua abilidade de criar cenários e situações que sairíam direto de um pesadelo.

A parte dos crimes: Falando em pesadelo, a 4ª parte é uma experiência diferente de tudo até então. Basicamente é uma descida sem freios ao puro inferno. A violência e a indiferência tomam conta da narrativa, resignificando toda a trama até então e desenvolvendo de forma magistral o personagem mais interessante do livro: a cidade de Santa Teresa.

A parte de Archimboldi: Fazer uma resenha dessa sessão do livro daria um livro por si só. Aqui Bolaño vai amarrar não só os personagens e eventos das quatro partes anteriores como vai conectar, por meio da história do misterioso autor da primeira parte, todos os temas tratados até então. Uma obra prima por si só, a 5ª parte nos faz refletir tudo que foi mostrado até então, além de fechar a narrativa de forma que tudo foi resignificado e a releitura desta incrível obra se faz obrigatória.

Por fim, seria impossível colocar aqui uma resenha completa de 2666, o que é realmente bom. Devemos seguir o conselho de Bolaño e apreciar a obra sem cair na armadilha de se tornar lógico demais. Facilmente no meu top 3 livros da vida.
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Biafort.Meireles 20/10/2023

Longo e pouca conexão
Na primeira parte do livro, quatro profissionais da língua alemã trabalham com as obras de um escritor misterioso. Eles querem encontrá-lo. Nas partes seguintes, as histórias são outras, com quase nenhuma relação entre elas. Só na última parte, é possível ligar alguns pontos, mas nem no fim tudo se relaciona. O livro é enorme, com parágrafos compridos. A mudança das histórias me deixava confusa e a falta de conexão me frustrava. Não consegui entender o título também. Fui insistente e consegui terminar o livro, mas não favoritei.
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Carolina335 08/08/2023

UM SENHOR LIVRO
Não sei como começar a resenha desse livro, foi uma jornada incrível conseguir terminar de ler. São cinco histórias que são ligadas por uma única cidade e eu gostei de todas elas. Esse livro me trouxe tantos pensamentos e reflexões, a linguagem dele é simples e fácil e o autor escreve tão bem, é incrível a forma como ele introduz várias histórias, personagens e situações que no começo eu pensava que não daria em nada e com o passar do livro tudo era ligado de um jeito que eu não esperava e que era incrível. Quando o livro chega no ápice que é a parte dos crimes contra as mulheres foi muito difícil continuar lendo, não por ficar ruim mas por ser tão real e todas as histórias são tão bem escritas que me deixaram muito nervosa, muito agoniada com tudo o que estava acontecendo mas valeu a pena de mais encarar. Acho incrível o que o autor fez nessa parte, ligar a morte das mulheres com o trabalho delas, mostrar como toda aquela população, todos os policiais homens não entendessem que mesmo prendendo um só homem as mulheres continuavam morrendo por causa dos namorados ou maridos, o erro não estava em uma só pessoa. O final me deixou de boca aberta, precisei até de um momento depois que eu entendi a ligação e o que estava acontecendo, fiquei sem palavras. Apesar de não ter um final definitivo e de algumas perguntas ficarem em aberto só torna o livro ainda melhor. Enfim QUE LIVRO BOM, apenas leiam vale a pena de mais!
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Gabriel 23/06/2023

Intrigante e provocador
Um livro enorme que frustra quem espera uma conclusão para o que é narrado, mas que tem uma beleza e perfeição justamente na ausência de um sentido único. No fim, um livro sobre a beleza e o horror, a ordem e o caos do mundo e do ser humano.
É impressionante como o autor tem pleno domínio da escrita, variando estilo e tom ao longo das histórias, além de provocar diversas reflexões, muitas vezes de maneira sutil e provocativa. Um livro que com certeza é instigate e que vale uma releitura.
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Rafael Stepanski 13/06/2023

Sensacional relato de uma foda
Achei sensacional o relato da bimbada entre o general Entrescu e a baronesa Von Zumpe no castelo. Fenomenal.
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Carlos.Eduardo 09/06/2023

Um Everest inteiro
Cínico, divertido, colossal, difícil, erudito, completo. Muitos adjetivos podem ser usados para descrever 2666. Nenhum deles lhe fará justiça. É um livro soberbo, de estrutura sólida, às vezes confusa, mas que encontra lógica no próprio caos que encerra.
Ler o último livro de Bolaño não foi tarefa fácil. De fato, pensei muitas vezes em desistir de 2666. Mas o esforço valeu a pena. Roberto Bolaño apresentou uma miríade de personagens infinitamente diversos e uma narrativa que passeia pelos mais variados estilos, demonstrando uma erudição que poucos autores coetâneos possuem.
As cinco partes desse livro, embora façam sentido separadas, são ligadas por uma linha sútil, entrelaçadas geograficamente na cidade fictícia de Santa Teresa e, numa esfera metafórica, e talvez mais sutil ainda, pelo turbilhão caótico que é a vida: o amor, a guerra, o assassinato, o sexo, a doença, o sucesso, o esquecimento, a política, a morte, etc.. Confusão, mas que nas linhas de Bolaño assumem sentido.
Para o leitor que procura leitura fácil, esse livro será um martírio. Para aqueles que arriscarem, 2666 é um deleite. Entretém, mas também castiga, testa o estômago do leitor e o faz refletir.
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Italo139 02/06/2023

Romance que nunca achei q viveria tlvz esteja errado kk mt bom o livro cada frase faz questão de ser bem detalhada
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Daniel 20/05/2023

Bolaño não subestima a inteligência do seu leitor!
Literalmente um livro para ser degustado e não lido!

Um livro que diverge muitas opiniões: assim como uma Fanta Uva, não há meio termo! É amado! Ou odiado!

Foi-se o tempo em que a leitura era apenas uma via de mão única! Em que você recebia as coisas mastigadas, que esperava um desfecho, que achava um livro perfeito por ele ter respondido a todas perguntas possíveis!

O contrário!

Não foi à toa que foi escolhido pelos críticos como a melhor obra em língua espanhola do século e colocada no pódio de todos os tempos, ao lado de Dom Quixote e Cem Anos de Solidão!
Um calhamaço! Quase ou mais de 1000 páginas, dependendo da edição! Trinta horas e meia de leitura!

O livro é composto por 5 partes independentes, cada uma escrita em um estilo literário, com enredos bem diferentes!

Tanto nas partes, quanto na obra em si, há a procura pelo ?desfecho?! Você devora o livro buscando que tudo se encaixe, que tenha um final que vá amarrar tudo e responder a todas as suas dúvidas!
Quando acaba, são horas de reflexão, de questionamentos e da ideia
pessimista de que nem a arte é capaz de salvar a podridão do ser humano!

Realmente, Bolaño não duvida (nem um pouco), da inteligência do seu leitor!
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Kesio.Rodrigues 15/04/2023

O Cemitério Selvagem do Século XX
Muitos falam que 2666 é um livro sem centro, outros consideram que Santa Teresa, cidade onde os crimes da narrativa ocorrem, é o verdadeiro centro do livro. Bolaño traça um panorama fragmentado, mas não menos total, de todo o século XX com enfoque na brutalidade. Um século totalitário que produzia a morte de forma industrial através de discursos extremistas. Um século que produziu a maior parte das artes que discutimos hoje, vindas muitas vezes de mentes que continham ideias que desprezamos. Um século que, sendo puramente contraditório em tudo, nos entregou um século XXI não menos doente.

O livro se divide nas 5 partes já clássicas: A Parte dos Críticos, A Parte de Amalfitano, A Parte de Fate, A Parte dos Crimes, A Parte de Archimboldi.

1 - A Parte dos Críticos:
Nessa primeira parte acompanhamos os movimentos de 4 críticos literários que são apaixonados pela obra do autor alemão Benno Von Archimboldi. Eles seguem os escassos rastros desse escritor recluso e acabam parando na cidade de Santa Teresa. Nessa parte o pessimismo irônico de Bolaño já mostra seus primeiros sinais quando dois dos intelectuais, que participam de tantos encontros literários e possuem um grau acadêmico tão elevado, agridem de forma brutal um taxista emigrante.

2 - A Parte de Amalfitano:
Amalfinato é um professor exilado que vive com sua filha Rosa na cidadezinha do México chamada Santa Teresa que faz fronteira com os EUA. Essa é uma parte mais intimista, sendo contada em longos parágrafos que giram principalmente, mas não apenas, em torno do medo que Amalfinato sente de que algo de ruim aconteça com sua filha. Nessa parte os crimes ficam mais explícitos com Amalfitano entrando em Paranóia por conta do medo.

3 - A Parte de Fate:
Fate é um jornalista americano que vai à cidade de Santa Teresa cobrir uma luta de boxe entre um lutador dos EUA e um lutador mexicano. Essa parte é bastante psicodélica e mostra que Santa Teresa é uma espécie de Purgatório que atrai as almas atormentadas e seus moradores se assemelham a fantasmas. Pouco a pouco o jornalista se vê envolvido com os crimes que vêm ocorrendo.

4 - A Parte dos Crimes:
Apesar das 3 partes anteriores, nada te prepara para essa parte. É um desfile assombroso de caos e ódio, onde são descritos, página após página, 400 mulheres mortas. É a melhor parte do livro. Como se Bolaño expusesse o caráter de uma sociedade, pós-nazismo, estupidamente louca. Santa Teresa, nessa parte, ganha um status sodomita, onde os exageros Sadianos são estendidos à toda uma sociedade constantemente impedida de se livrar dos crimes. A precarização do trabalho faz muitas mulheres tentarem conseguir o seu pão de cada dia na prostituição e da prostituição às grandes orgias remuneradas que impulsionam os assassinatos. Afinal, de quem é a culpa? Dos políticos que não fazem nada a respeito e deixam as ruas em tal estado precário que as vielas se assemelham a buracos negros onde o único sinal emitido são a vozes dos moradores, ou da polícia profundamente corrompida que abusa de vítimas e faz piada com o caos? De quem é a culpa? De um único criminoso, ou de toda uma sociedade viciada em consumir tragédia como entretenimento? Sociedade essa que é constantemente abastecida pelos jornais que estão em busca sempre da próxima brutalidade. O catálogo de imagens de dor vai desde mulheres sendo descartadas em lixões públicos até um conto snuff.

5 - A Parte de Archimboldi:
Aqui acompanhamos a vida do escritor misterioso que os críticos buscam na parte 1: Benno Von Archimboldi. Mais precisamente: acompanhamos uma trajetória crua da vida durante o século XX. Essa parte vai da Alemanha à URSS, te mostrando ascenção e quedas não só de impérios, mas também de seres humanos. Essa parte é um show de sensibilidade e, além disso, conecta o livro inteiro. Que prazer deve ter sentido Bolaño ao dar vida a um criador como Archimboldi! Nessa parte Bolaño brinca com todos os gêneros literários possíveis: Gótico, ficção-cientifica, romance de formação, romance de guerra, conto, novela, ensaio, crônica etc.
Archimboldi é, em resumo, o ápice da escrita de Roberto Bolaño.

Ao terminar esse livro, a única coisa que consigo pensar é em agradecer o Bolaño por ter mudado a forma como eu enxergava a literatura. Sem recorrer a um vocabulário complicado, Bolaño abraça a vida.
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Rosangela Max 22/02/2023

Uma obra excepcional.
São cinco histórias com temáticas diferentes, mas que se relacionam entre si.
A primeira é sobre quatro amigos intelectuais de diferentes nacionalidades e que são fãs de um escritor alemão misterioso. Achei bem interessante, apesar de ter me dado muito sono sono ao lê-la.
A segunda é sobre a vida do melancólico Amalfitano. Gostei bastante desta, principalmente sobre a parte do relacionamento dele com a Lola.
A terceira também gostei muito. É sobre um jornalista afro-americano chamado Quincy Fate. Aborda o tema negritude.
A quarta foi a que mais gostei. É bem longa e o ponto principal é o assassinato de mulheres (tanto cometido por serial killers quanto de forma passional) em uma cidadezinha na fronteira do México com EUA. Apesar de gostar de histórias deste gênero, achei essa bem cruel porque retrata o dia a dia nos lugares mais pobres. É pura violência.
A quinta e última é a segunda mais longa e conta a história de personagens interessantíssimos como Hans Reiter (personagem principal), Boris Ansky, Sammer, e Ingeborg Bauer, Lotte, ente outros. Gostei saiu um pouco dos cenários dos EUA/México . É o elo chave das demais histórias.
Que bom que resolveram publicar estas 5 partes em um único volume. Acredito que de formas separadas elas não fariam muito sentido. Embora trata-se de um romance inacabado, o final não ficou incoerente.
Roberto Bolaño (um escritor que teve uma carreira curta, mas marcante) fez um trabalho incrível com o desenvolvimento destes enredos e com a criação dos personagens. Não é à toa que é considerada a melhor obra dele, mesmo não estando finalizada.
Recomendo a leitura.
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Valéria Cristina 16/02/2023

Que livro é esse!
Esse é um livro difícil de comentar porque não consigo classificá-lo, pois essa leitura foi uma das mais intrigantes que já fiz. Não é uma história que possa ser lida com rapidez, muito menos com falta de atenção.

A narrativa é dividida em cinco partes. A primeira, “a parte dos críticos” relata o fascínio que quatro literatos (um francês, um espanhol, um italiano e uma inglesa) têm pela obra de Benno von Archimboldi, um recluso escritor alemão que há anos não aparece em público. Ao longo desse capítulo, vemos a procura que eles fazem por Archimboldi e como essa busca os leva à cidade de Santa Teresa, no México, local onde diversas mulheres (de todas as idades) são sequestradas e mortas e no qual dizem que o alemão foi visto pela última vez.

Na “parte de Amalfitano”, acompanhamos as lembranças de um filósofo melancólico e depressivo que vive com a filha em Santa Teresa, México. Suas digressões o levam ao passado, ao casamento, à mulher, à vida em Barcelona.

A “parte de Fate”, relata as ações de um jornalista que é designado para cobrir um evento esportivo em Santa Teresa e que, nessa viagem, se interessa pela história das mulheres assassinadas.

Na “parte dos crimes”, o mais extenso capítulo do livro, os homicídios de Santa Teresa são descritos de forma minuciosa e informativa. As investigações, os suspeitos, os presos e tudo o que está relacionado com esses acontecimentos são narrados e diversas especulações são deixadas para que o leitor reflita.

Na última parte a “de Archimboldi”, acompanhamos os movimentos de diversos personagens, inclusive de Hans Reiter, e maioria do capítulo é ambientado durante a Segunda Guerra Mundial, mas se estende até o ano 2000.

Ao longo da leitura, ao passarmos de um capítulo para outro, temos a impressão de estarmos lendo livros diferentes, escritos por autores diversos. Tal é a inventividade de Bolaño. Além disso, são discutidos temas relacionados à literatura, livros, escritores. Ainda, vemos um perfil da banalização da violência urbana, doméstica e policial, bem como a inércia, a ineficácia e a ineficiência do aparato policial; a pobreza da população e o seu abandono também são explorados nessa obra monumental.

A linearidade é uma característica que não faz parte dessa narrativa. Bolaño dispõe, em todos os capítulos, um quebra-cabeça com histórias de surgem de outras histórias e compõem um panorama maior do que as partes individuais do livro.

Recomendo, por fim, que a leitura abranja a nota à primeira edição, no final do volume.

Roberto Bolaño Ávalos foi um escritor chileno, ganhador do Prémio Rómulo Gallegos por seu romance Os Detetives Selvagens, que ele descreveu como uma carta de despedida à sua geração. Bolaño foi considerado por seus pares o mais importante autor latino-americano de sua geração.
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Jefferson 21/11/2022

Brutal
É espantoso q um livro possa ser tão ruim. Juro, eu não acredito. É como se o autor fizesse questão de torná-lo pior página a página. De tirar do leitor qualquer possibilidade de identificação com alguma experiência humana - seja intelectual, filosófica ou emocional. E justamente num livro com uma história tão importante pra contar. Sem dúvida, o pior livro q já li na minha vida.
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Fernando 05/08/2022

Precisamos falar sobre 2666
2666, de Roberto Bolaños, me acompanhou no último um mês e meio.
Todas as noites, provocando pesadelos, acesso de riso, excesso de angústia, repulsa, amor, perplexidade, confusão mental ou clareza. Um ou mais itens ao mesmo tempo.

No fim, a sensação de privilégio por ser contemporâneo, portanto, estar entre os primeiros leitores, de um monumento que ficará - o livro já é considerado por muitos especialistas como o maior romance do século XXI até o momento. Algo como ser leitor de Shakespeare já no século XVII, ou de Machado de Assis no início dos 1900.

Mas classificações e comparações à parte, 2666 é um jato incessante, ansioso, fulminante de personagens, paisagens, histórias e tramas. É impossível imaginar que o autor revisou a obra, algo assim não precisa e não deve ser revisado, não há como reviver o mesmo furacão.

Um furacão que te arrasta para os mundos independentes, mas nem tanto, de um autor alemão que ninguém nunca viu; seus críticos/cultuadores europeus; um professor universitário chileno; um jornalista norte-americano; uma camponesa mexicana prestes a virar santa; uma deputada quatrocentona/feminista do PRI; um editor de livros judeu; uma baronesa prussiana; um general romeno; o assassinato de mais de duzentas mulheres e mais uma centena, sim, uma centena, de personagens que se tornam reais logo na segunda linha.

Essa multidão, ao invés de acrescentar, destrói cada retalho da colcha empoeirada que cobre a relação Europa/América Latina, ou, mais precisamente, expõe à luz como a tradição de convulsões e conflitos do velho continente deu origem ao inferno particular instalado em cada país latino-americano até hoje.

Ao finalizar o livro, me lembrei de um episódio vivido em 2011, quando recebi um prestigiado diretor de fotografia italiano radicado em Hollywood. Entre uma gravação e outra, nós, da equipe local, procurávamos mostrar um detalhe e outro do Brasil para o excêntrico romano/californiano. Entre caras de nojo e expressões de surpresa mal disfarçadas, o tipo disparou: "a textura deste lugar é idêntica a do México".

Sim, a textura da vida na América Latina é a mesma. Nossas dores e gozos, tão diferentes e tão idênticos entre si. A mesma textura da Europa latina do pré-Segunda Guerra.
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Ale Giannini 31/07/2022

Não rolou
Gosto de ler calhamaços, não gosto de ler livros de contos. Prefiro aquela história que vai sendo construída ao longo das páginas, onde as personagens se tornam familiares e torcemos por eles, bem ou mal.

2666 é composto de cinco livros, ou partes, que giram ao redor do assassinato de mulheres no México e em torno de um escritor misterioso chamado Archimboldi.

Gostei bastante da primeira parte, a dos críticos, curti as personagens e as relações entre elas.

Já a quarta parte, a dos crimes, foi um exercício de paciência. Estava anotando o nome das personagens para não me perder, até que percebi que o trabalho seria em vão. Li uma resenha que essa era a intenção do escritor, que as vítimas virassem estatística. Se foi isso mesmo, tarefa concluída com êxito!

Roberto Bolaño é prolixo, dentro de uma história derivam outras, as personagens são densas, bem construídas, mas abandonadas repentinamente. Novas personagens tomam o papel central da trama até serem perdidas em meio à novas histórias e novas personagens.

É o primeiro livro que leio dele, preciso ler outros para formar opinião, mas a primeira impressão não me encantou.
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