Eduardo.Staque 19/06/2023
Então, o que é que vai ser, hein?
Não é um livro fácil, ou uma leitura fácil.
Mesmo com o glossário no fim do livro, acredito que não seja, principalmente pra quem não gosta de ficar parando a leitura pra ver o significado das palavras do dialeto Nadsat (eu, no caso, odeio fazer isso, e assim como em Duna, não olhei nenhuma vez).
Mas acho que é um dos pontos fortes do livro, essa estranheza com as palavras, a busca pelo entendimento delas ajuda a entender um pouco daquele mundo distorcido.
Pra quem já viu o filma talvez fique mais fácil digerir tudo o que é narrado pelo personagem principal, e assim, consiga colocar todas aquelas situações em contexto, mas que nunca teve esse contato pode achar que falta descrição ou mais acontecimentos fora do núcleo principal para entender esse mundo distópico, porém, senti que era necessário ser assim, já que o livro é a narração pelo personagem principal sobre suas próprias vivências e experiências naquele mundo, e assim, pode até mostrar que há um outro motivo para suas ações.
Ações essa que também podem estar ligadas a fase da vida dele, não que isso seja comum ou normal, mas que conforme envelhecemos e amadurecemos, a visão de mundo, de prioridades, a responsabilidade e seu próprio contexto faze suas ações e reações mudarem.
Podemos pensar também que tudo isso é uma reação ao totalitarismo, a uma sociedade que permite tais atrocidades e não busca mudar suas bases para tentar melhorar, que é uma forma de se fazer ouvir por quem precisa ouvir.
É um livro que permite pensar em muitas coisas como os limites de ação como indivíduos, a liberdade, educação, sistemas carcerários ou correcionais, a identidade, se o que fazemos é totalmente nossa escolha ou se somos forçados a escolher o que o sistema quer.
É bastante coisa pra fazer a gúliver funcionar!
Mesmo com essa densidade de pensamentos e possibilidades, com as palavras estranhas, é um livro rápido, cativante e com o final diferente do que é apresentado no filme e ao meu ver, melhor que o filme também.
Porém, a nota que dei não é de fato somente pelo livro, mas também pelo trabalho da tradução e localização.
A nota de tradução e edição é incrível!
Mostra como esse trabalho é importantíssimo e muito difícil, demandando muito estudo e conhecimento da obra original, além do contexto da época em que foi escrito e o contexto do autor.
Muitas vezes falamos aqui nas resenhas que o autor escreve de tal forma, tal jeito, mas tudo isso depende dos tradutores, de como eles interpretam, atualizam e transformam para nós sem perder a essência da obra original.
É um trabalho fascinante, e aqui, uso esse pedaço da resenha para parabenizar e agradecer a todos que ajudam a trazer as maravilhas do mundo da leitura para nossa realidade.