Andre.Pithon 16/04/2024
3.5
A Vida Invisível de Addie LaRue é conceitualmente interessante, excruciantemente entediante, enfurecidamente superficial e potencialmente emocionante. É tão complicado sentir que existe um livro bom enterrado aqui no meio, uma história incisiva e desesperadora que está absolutamente enterrada abaixo de uma infinidade de "Addie anda por aí, todo mundo esquece, Addie fica triste :(". Eu sou o tipo de pessoa que normalmente argumenta a favor de cortar 1/4 ou 1/5 de todo livro que eu leio fora, e aqui honestamente acho que esse livro seria maravilhoso se metade fosse arrancada fora.
Addie LaRue era uma coitada francesa medieval, que entra em um pacto com o bom e velho Demônio, sempre tão prestativo, em busca de liberdade e tempo. Ela ganha imortalidade, saúde e juventude, mas infelizmente toda pessoa esquece dela assim que a mulher deixa seu campo de visão. Isso gera uma mecânica conceitualmente interessante, uma impossibilidade de manter emprego ou propriedade, uma permissão pra fazer qualquer coisa desde que ela saia da linha de visão, mas as propriedades acabam ficando nubladas pela angústia. Addie fica muito muito triste em ser esquecida. E tudo bem, eu gosto da tristeza condensada que permeia essa obra, da melancolia constante enquanto ela só sofre, mas a estrutura falha com o livro. Falha, pois a história é contada em duas linhas temporais, o passado dela fazendo pacto e aprendendo a lidar com a condição; e o presente, onde ela está em Nova York, ainda triste, ainda coitada; mas eventualmente se apaixona por Henry, a única pessoa que consegue vê-la.
O vai e volta temporal torna tudo muito maçante, capítulos repetitivos que reforçam o mesmo ponto. Eventual, até Henry ganha fragmentos de seu passado, e eu não aguentava mais. O presente progride vagarosamente, com a ideia de que Henry se lembrará sendo óbvia desde que ele é introduzido, mas levando centenas de páginas para se concluir. Por sorte, Schwab escreve consideravelmente bem, e sua prosa é fluída e gostosa, nada espetacular, sem grandes frases devastadoras ou jogos de palavras engraçados, mas é funcional, é competente, é bom; e isso já deixa muito da fantasia contemporânea para trás (E romantasia tbm suponho, msm eu não sendo tão familiar com o gênero [Ainda, meu futuro aparenta ser sombrio])
O final é a melhor parte do livro, e não acredito que valha a pena eu largar spoilers aqui para os curiosos, mas é previsível. Previsível não é ruim, achei ele bem feito, e sem dúvida meu momento de maior apreço pela obra, pois ele ousa ser levemente quebrado, não realmente perfeito para ninguém, e constrói uma metalinguagem autorreferencial meio engraçada.
Henry é entediante. Faz sentido o romance dele com Addie, conveniência mútua, mas que personagem vazio e sem graça. Um pouco mais de personalidade, e talvez o final pudesse emocionar. Luc, o outro vértice do triângulo romântico, é o já citado demônio, e a relação entre ele e Addie é mais divertida, meio tóxica, meio conflitante, ambas almas interligadas de uma forma que todos acabam saindo feridos da brincadeira, mas lhe faltam cenas poderosas, e o fato de todos seus grandes momentos estarem no passado estraga levemente a dinâmica. Faltou para Luc momentos fortes e presença na história; e faltou para Henry não ser um pedaço de cartolina molhado e sem graça que serve só pra ser ghostwriter da Addie.
Mas honestamente?
Foi melhor do que eu esperava. É um livro que se você se apaixonar pelo estilo de escrita da Schwab, ele vai dolorosamente delicioso. Um livro que, se de algum jeito você conseguir colocar emoção dentro do romance sem graça aí, vai despedaçar seu coração. Eu consigo facilmente entender a popularidade, e ela não me ofende. É conceitualmente forte, tem algo a dizer (diz mal, mas tem uma tese central, e tá bastando), e quando eu peguei o ritmo de leitura, eu não odiei. Vai que vai, Schwab. Das queridinhas do TikTok você é minha favorita agora.