erbook 21/02/2023
Variabilidade indesejável de julgamentos de casos análogos
Imagine que a sua conduta seja valorada de forma excessivamente mais gravosa que a de seu amigo em condições semelhantes. Percebe-se claramente uma sensação de injustiça. Da mesma maneira, seria justo um réu ser condenado a uma pena exorbitantemente maior que a de outro por fato análogo? Seria aceitável pagar prêmio de seguro de carro em valores bem superiores em relação a outro segurado nas mesmas condições? Infelizmente, há variabilidade em julgamentos que deveriam ser iguais ou muito próximos. A essa invariabilidade indesejada, os autores chamam de ruído.
De fato, onde há julgamento humano, há possibilidade de ruído. O problema é quando essa variabilidade se amplia de tal forma que causa injustiças na seara criminal, bem como prejuízos para a economia e para as pessoas na esfera cível. Amparado nessas premissas, os autores fazem um diagnóstico a respeito das razões que levam os tomadores de decisão a julgamentos tão díspares e propõem metodologia para solucionar ou, ao menos, minorar esses ruídos.
Entres os diferentes tipos de ruídos identificados pelos autores, considero três os mais importantes: 1) ruído de padrão: ocorre quando cada julgador possui um critério próprio; 2) ruído de nível: cada julgador possui diferentes percepções na escala de um modelo predeterminado para a tomada de decisão; 3) ruído de ocasião: surge quando o mesmo julgador altera a decisão a depender das circunstâncias, as quais, infelizmente, podem se referir a fatores totalmente alheios ao problema a ser solucionado.
A partir desse diagnóstico, os autores propõem a aplicação de metodologia para melhorar a tomada de decisões: a) melhorar a seleção de julgadores; b) realizar treinamento adequado; c) estabelecer diretrizes com balizas objetivamente verificáveis.
Em tempos de pós-modernidade, na era dos algoritmos e da inteligência artificial, surge reflexão interessante: será que a substituição dos julgamentos humanos por algoritmos traria melhores soluções para todas as situações? Você preferiria ser “julgado” por um algoritmo ou por um ser humano? Será que o algoritmo que escolhe o próximo filme no “streaming” seria apropriado para resolver quanto uma criança deve receber de pensão alimentícia?