May_ 09/11/2021
Minhas impressões:
Quando li "Tartarugas Até Lá Emabaixo", me surpreendi. Nunca tinha lido nada do John Green e, na boa, nem tinha vontade de ler. Peguei o Tartarugas pra ler não por uma vontade, mas sim por curiosidade. E a surpresa positiva foi em ver que a história, por mais que seja adolescente e eu tenha alguns problemas com a escrita, ainda assim conseguiu ter seu grau de maturidade e teve a coragem de levar a história a caminhos bem menos seguros do que eu esperaria de um autor como o John Green. Tartarugas, então, deu start no meu interesse pela obra do autor. Não um interesse em ler tudo o que ele já fez, e sim um interesse em saber: pra onde caralhos ele vai depois desse livro. A sensação que tive lendo Tartarugas, mesmo não tendo lido os outros (e só tendo visto aquele filme do cidade de papel), é que a obra parecia ter dado um passo a frente na carreira no autor, uma tentativa de algo diferente dentro de uma fórmula específica. A esperança é que o Green fosse amadurecer cada vez mais, mudar cada vez mais e isso em si me interessava pra [*****]. Tipo, imagina, um autor tão famoso quanto ele mudar o curso de sua escrita por completo! E, bem, é aí que chegamos em Antropoceno.
Tá, ok, no aguardo de uma nova obra do Green, a última coisa que eu consideraria era que ele tentaria escrever um livro de não ficção. Mas, na real, quando fiquei sabendo que esse seria o caso, até que fiquei animado. [*****], eu queria algo diferente, né? Eu queria vê-lo tentando coisas novas, mudando, amadurecendo. Esse pode ser o caso dentro de uma obra de não ficção como Antropoceno, né? Bem... sim. É o caso, sim.
Antropoceno mistura elementos de ensaio com passagens autobiográficas, o que à obra um tom intimista. E aí que talvez resida meu principal problema com a obra: ela é intimista num nível que eu meio que não interesso tanto? Tipo, gosto dos momentos que o Green fala da sua relação com a família, dos seus pensamentos sobre a pandemia, sobre alguma história de seu passado. O problema em si é quando ele quer escrever um slice of life de sua vida em momentos que, pra ele são mt interessantes, pra mim são um porre. Odeio, por exemplo, qd ele fala de cachorro quente, ou de esporte, ou até mesmo da história de uma foto que ele tem. A questão aqui é: pro Green esses assuntos são interessante, fascinantes até, mas pra mim são uma chatice que dói. E, bem, acho que essa é a diferença desse livro com um Linha M da Patti Smith, por exemplo. Tudo o que a Patti escreve segue uma linha emocional. Mesmo quando ele passa páginas e mais páginas falando do dia que ela viajou pra um lugar aleatório pra fazer uma palestra e passou a tarde nesse lugar tomando café, eu ainda assim fico compelido a ler esse vazio que a Patti descreve, pq ela faz ser gostoso, acolhedor, melancólico, bonito. Green não faz nada disso. A(s) abordagem(ns) dele é a de alguém muito empolgado querendo falar de algo que ela gosta muito, ou por vezes a de um professor querendo falar pra você a história de uma coisa que ele admira pra [*****]. Essas abordagens funcionam em certos momentos. Já em outros...
Outra questão desse livro são a citações. Assim, citações em si não são um problema. No capítulo sobre o por do sol, por exemplo, acho que o autor se utilizou bem desse recurso. E, nossa, acho até que na maior parte do tempo ele utiliza isso de forma decente. O problema mesmo são os momentos que ele cita alguém meio que por citar. Tipo, ele cita, não conversa tanto com essa citação que ele fez e aí a sensação é que ele só tá querendo citar por citar, ou citar pra mostrar que ele conhecer autor x, ou citar pq ele quer mt que a gente leia as frases de outros autores (talvez numa tentativa de deixar sua obra mais densa e profunda, ou talvez por um receio de q o q ele tem a oferecer não é tão interessante, e por isso precisa se apoiar mt nesse recurso).
E por fim, um último problema que vejo na obra é algo que gosto de chamar de "fator wikipedia". Green sente a necessidade de ser nosso professor para alguns temas. Isso deixa um peso em suas gostas, de forma que ele quer passar pra gente alguma carga de densidade história para algum determinado assunto. O problema, é claro, é que essa densidade quase nunca é tão densa quanto uma página de wikipedia. No máximo parece que ele leu a página da wikipedia + um capítulo de um livro relacionado ao assunto. Eu não sei direito como me expressar aqui, mas a sensação é que eu tô mesmo lendo trechos de um podcast mediocre, sabe? Um podcast que quer falar de coisas mediocres, pesquisa de forma mediocre e fala dessa mediocridade como se fosse algo interessante. Obvio, não são todos os capítulos que passam essa aura pra mim, mas eu também que são a minoria q são assim.
Então, é, acho que esse livro acerta mt qd o Green foca em sua história pessoal (principalmente qd essa história é de fato interessante, e não só uma viagem pra comer cachorro quente), ou qd trata do assunto levantado. Tipo, tratar mesmo, discutir o assunto, e não só escrever a página da wikipedia no livro. O capitulo do por do sol, que insisto em citar pois acabou o livro e ele permaneceu sendo o ponto mais alto da obra pra mim, é um capítulo que o Green se questiona o tempo todo, ele debate com as citações que faz, levanta pontos, filosofa em cima do assunto. Se o livro todo fosse como esse capítulo, eu teria amado. Mas o livro não é. E aí, voltamos pro começo do texto, onde eu disse que estava ansioso pra um próximo livro do autor, para o crescimento e a mudança de Green. E, te falar, esse livro até que tem tudo o que eu pedi. O problema é que parece que essas coisas ainda não estão completamente craftadas, sabe? Parece um livro de transição, se é que isso faz algum sentido. É um livro que ele amadureceu sua escrita, mas tbm se deixou cair em armadilhas bobas. Que amadureceu os temas, mas não conseguiu carregá-los de forma interessante por mt tempo (eu aprecio o coesão, mas eu visualizo problemas aqui q são mt semelhantes ao do tartarugas, problemas como a repetição e a insistência em certos assuntos). Que conseguiu ser intimista, mas talvez não intimista demais. O Green precisava dar mergulho maior, mas ele preferiu ficar no raso, boiando.