Thammy 13/03/2022
Sensível e, ao mesmo tempo, agoniante.
Aurora, uma mulher, professora, castigada pelas lembranças entrecortadas e errantes causadas por algum dano/doença cerebral provavelmente irreversível nos envolve nessa trama. Suas memórias trazem suas dores, suas indignações e Camila, sua filha (ou seria amiga? ou apenas um devaneio?) sempre voltam ao leitor com algum ensinamento.
Esse é um livro que traz reflexões sobre a finitude da vida, sobre a chegada da idade e todos os pesos e culpas carregados pelas mulheres por conta de suas escolhas. Fala sobre a morte, o medo da perda e seus aspectos trágicos e libertadores. Fala sobre maternidade, angústia, a solidão trazida pela velhice. Sobre os mistérios, lembranças e desejos da nossa mente e como ela nos comanda.
Traz uma narrativa com ritmo bem peculiar, neurótico, rápido, traço característico das obras de Mariana Carrara, onde é possível mergulhar, estar na pele do personagem principal. Tão fundo que é quase palpável sentir suas dores, suas confusões mentais, seus desagrados com a nova configuração de vida e de consciência. Eis uma leitura sensível e agoniante. Um belo exemplar da literatura brasileira contemporânea. Recomendo demais!