anaartnic 26/08/2023
É sempre hora de um bom livro amém
Eu nunca coloco baixas expectativas em livros nacionais, eu raramente me decepciono, e com Mariana Salomão Carrara não foi diferente. 'É sempre a hora da nossa morte amém' torna a ideia de morte (e de vida) algo quase que encantado a partir das digressões da protagonista Aurora.
Cada capítulo é uma tentativa de Aurora relembrar os acontecimentos de sua vida, sobretudo quem é Camila, nome que estava chamando quando foi encontrada sem memória em uma estrada. Camila, por vezes, aparece como uma velha amiga, em outras, como filha. As memórias se confundem e se assemelham de uma maneira que o leitor cria a todo momento suas próprias teorias, encaixando as peças da memória fragmentada de Aurora.
O livro possui um teor cômico a partir do senso de humor de Aurora, com sua lembranças, comentários sobre os demais idosos da casa de repouso e das conversas com seus médicos, que investigam o caso de sua amnésia. Há também um teor fúnebre com a grande insistência da personagem na morte de sua filha Camila, explorando todas as possibilidades e cuidados que deveria ter tomado para que as fatalidades não ocorressem. Tudo é dosado e encaixado de uma maneira muito balanceada tornando uma leitura muito proveitosa.
Preciso destacar a relação mãe e filha, com passagens que, com certeza, todo mundo já passou na sua infância: as advertências dos pais para os perigos da vida comum. Diálogos que suscitam muita empatia com as dores de uma mãe e toda a solidão que estas lidam com a maternidade.
Destaque para os cãezinhos Perdoai e Ofendido, eu simplesmente amei todas passagens desses animais, justamente por eu conviver com dois cachorros bem briguentoskkk.
Recomendo demais a leitura, é um livro para rir, refletir e aprender a aproveitar os momentos e memórias que carregamos até a hora de nossa morte.