Carol 27/01/2023Impressões da CarolLivro: Canto eu e a montanha dança {2019}
Autora: Irene Solà {Catalunha, 1990-}
Tradução: Luis Reyes Gil
Editora: Mundaréu
224p.
"Porque o bosque é daquelas que não podem morrer. Que não querem morrer. Que não vão morrer porque tudo sabem. Porque tudo transmitem. Tudo o que se tem que saber. Tudo o que se tem que transmitir. Tudo o que é. Trabalho compartilhado. A eternidade, coisa leve. Coisa diária, coisa pequena." p. 52
Esse capítulo tão bonito de "Canto eu e a montanha dança", da catalã Irene Solà, é narrado por cogumelos conhecidos como as trombetas-dos-mortos. E acho que sintetiza bem o quão inusitado e sensacional é este romance.
O livro é uma rede tecida por diferentes perspectivas de muitas personagens: homens, mulheres, criança, idosos, nuvens, cogumelos, cachorro, urso, corças, fantasmas, bruxas, a própria montanha. Cada capítulo é uma pecinha de um quebra-cabeça panorâmico, urdido de maneira a não deixar furos na trama.
Não há narrador que se repita, mas eles são recorrentes de alguma forma na narrativa de um ou de outro. Em primeiro plano, o desarranjo de uma visão de mundo que situa os homens no centro de todas as coisas.
Se a morte trágica de Domenèc impacta as vidas de sua esposa, filhos e das pessoas do vilarejo em que residem, o que é essa morte frente às montanhas, que ali estão desde tempos imemoriais? Testemunhas de infinitos ciclos de vida e morte, de tantos eventos heroicos e violentos.
Li "Canto eu e a montanha dança" para o @leiamulheresrj e foi uma leitura que me entusiasmou como poucas. Meus olhinhos míopes brilharam. Unânime entre quem participou do debate.
A mudança de foco narrativo é um quê de divertimento a mais. Quem ou o quê está me contando isso? Estamos na Guerra Civil Espanhola ou na Inquisição ou nos anos 2000? Eita, que essa corça testemunhou um acidente narrado lá atrás. A poesia do Hilari. O capítulo da Lluna!!!
É de embevecer. Que escrita deslumbrante! Perdoem o clichê, mas "Canto eu e a montanha dança" me atravessou, vai reverberar, já está reverberando. E quando vejo que Irene Solà tem somente 30 aninhos, exclamo, como Domenèc, "taqueospariu"! Leiam-na