ferreirareads 10/11/2021O segundo melhor livro de 2021Tenho que começar falando da proposta feita pela Olívia foi fora de tudo que eu estava acostumada a ler. O Peso do Vazio foi o meu primeiro contato com um mistério noir, e posso dizer que comecei do melhor jeito.
A história gira em torno de 8 famílias bilionárias que vivem em Old Westbury, a segunda vila mais rica do pais e coração da economia mundial. Sim, tudo isso se passa no melhor estilo Old Money e, acredite, ao longo da história você vai descobrir que se trata de mais dinheiro do que você imagina. A crítica social em cima desse tema foi algo incrível, a Olívia usou uma das personagens para expor que dinheiro não é a solução de tudo. Pelo contrário, o tanto de problemas que isso trouxe para a vida da personagem em questão não pode ser mensurado em palavras. Além, é claro, da desigualdade social que também é citada de uma forma muito realista.
Um mistério bom precisa ser diferente, ou é só mais um mistério. E, na minha opinião, sabe qual foi a genialidade da autora? Você se depara com 7 personagens narrando e nunca sabe de quem é a vez até estar familirializada com o jogo (ou a história), o que aguça mais ainda a curiosidade e a criatividade. Confesso que isso, nos capítulos finais, foi motivo de muito surto, já que novos narradores surgiram dando uma reviravolta na história que eu não esperava.
A Alexia é uma bailarina solista, russa e com um passado enigmático que te obriga a juntar as peças ao longo da leitura, mas ela é também a mais intensa. Sabem quantas vezes eu quis abraçar essa mulher e a proteger de tudo e todos? Várias. Aqui temos uma vitima de gaslighting, uma manipulação psicológica onde o homem tem controle sobre a mulher ao ponto de anulá-la, gerar inseguranças, dúvidas e medos. Nele, o homem distorce, omite ou cria informações, fazendo com que a mulher duvide de si mesma, de seus sentimentos, da sua capacidade e às vezes até da sua sanidade. É, você vai acompanhar isso de uma forma muito realista - e doída. A personagem desenvolve um quadro de depressão, ansiedade e pânico, o qual é tratado em terapia e abordado com muita responsabilidade pela autora. Ver ela se lembrar do trauma é chocante, porque, além de conhecer o passado dela, começados a ter noção do motivo dela estar na situação atual, que é muito pesada. Uma das coisas mais lindas é ver o progresso da Alexia e a luta que ela enfrenta para conseguir seguir e viver uma vida normal.
Nosso protagonista é o Damon, herdeiro da família Duncan e gêmeo do Dylan. Nosso mocinho, que é um verdadeiro gentleman, está passando por um processo de divórcio e enfrentando o peso das regras impostas pela família. Ele me conquistou desde o início com seu jeito extrovertido e com uma pose de quem tem absolutamente tudo, menos o motivo do seu vazio: amor. Sim, ele só quer se sentir amado e você se depara várias vezes com esse sentimento gritante. Se atente ao fatos que cercam a vida dele desde o primeiro capítulo. O Damon é um cara traumatizado por não ter conseguido ajudar a mãe, que faleceu. Além disso, ele sofre com uma família que possui pensamentos preconceituosos em relação a saúde mental. Ele possui TDAH, ansiedade e insônia, mas nunca recebeu o tratamento adequado, o que o leva a carregar esse peso imenso sozinho e da forma como ele consegue lidar. Conforme seu relacionamento com a Alexia se desenvolve, ela o orienta a buscar ajuda psicológica, mas, apesar de ser um cara externamente amoroso, protetor e carinhoso, vemos no Damon um cara que enfrenta o conflito pela forma como foi criado e vícios de hábitos que são difíceis de serem deixados para trás.
Agora a minha rainha: Cherrie Young. Sim, a minha personagem preferida, a dona de, praticamente, metade dos meus destaques no e-book. Apresentada como integrante da família Young e melhor amiga de infância do Damon, a Cherrie é o resumo de tudo que acho incrível na personalidade de uma mulher, uma verdadeira femme fatale. Ela é inexplicavelmente inteligente, ardilosa, manipuladora, sabe quem e quando usar as suas armas e, desde criança, se mostra cheia de personalidade, capaz de conseguir absolutamente tudo. Preste atenção em cada palavra dita por ela, bem como cada passo que ela escolhe trilhar. Várias peças são importantes, no jogo, mas, na minha opinião, nenhuma supera a Cherrie. Ela também foi a dona das minhas lágrimas e das teorias mais insanas que tive ao longo da história. Sabe aquela personagem que te manipula? É ela. E não, não de um jeito ruim. Na minha lista de personagens incríveis já inventadas, ela ocupa 2º lugar.
Temos aqui uma história digna de uma série na Netflix? Sim. O que mais me chamou a atenção em O Peso do Vazio foi a complexidade do mistério, sem um único furo. Como leitora, imagino que deva ser muito difícil escrever um livro, ainda mais de mistério, e amarrar as pontas sem nenhum nó, coisa que a Olívia fez impecavelmente. Existem livros que pedem um certo número de páginas para que o desenvolvimento siga sendo fluido. São quase 900 páginas que você fica completamente presa e em função de descobrir se as suas teorias fazem sentido. O que resultado? Você lê e nem percebe. A reta final do livro é marcada por muitos surtos e várias respostas vão surgindo, fazendo com tudo faça sentido.
Tem romance, mas a história é mais do que isso. São tantos assuntos importantes e personagens envolvidos que, quando você se dá por si, o casal aconteceu naturalmente. Alexia e Damon é o verdadeiro slow burn dos adultos, o casal que você sente a conexão e o sentimento pelas atitudes e falas poéticas. Duas almas destruídas que precisavam se encontrar não para despertar a cura um no outro, e sim para se complementarem e terem a certeza que todos são dignos de finais felizes, independente do que tenha acontecido. Acredite, esses dois são diferentes de todo e qualquer casal que você já conheceu, e amar eles é a coisa mais fácil do mundo.
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