spoiler visualizarDeh 24/11/2021
Sardas ?
Quando vi esse livro, pensei automaticamente que precisava ler. Amo os livros da Cecilia, ela tem uma forma sensível de criar personagens, e suas histórias passam-se na Irlanda, um país que mora no meu coração.
E quando vi essa capa, achei tão fofa que iniciei imediatamente a leitura. Só que a história não é fofa, ela é dura e crua.
Já iniciamos com Allegra narrando o quanto se sente quebrada de uma forma não muito bonita, confesso, porque algo que nós vamos descobrindo ao decorrer da história, que Allegra é bastante sincera conosco, os leitores, mas não tanto com as pessoas ao seu redor.
Allegra Bird é uma garota criada pelo pai, que possui sardas pelo corpo, herança genética, e ela tem um estranho modo de liga-las que vamos descobrindo ao decorrer de sua história, a forma como as sardas mostram quem Allegra é, e como ela se sente confortável e estranha com elas.
Somos inseridos numa rotina rígida, que confesso me deixava um tanto frustrada, Allegra é filha de um artista, cresceu até os cinco anos sendo criada apenas pelo pai, e depois foi estudar em um internato, onde foi introduzida num modelo cheio de regras, o que a levou a se sentir confortável e aplicar na idade adulta. Guarda de estacionamento, se mudou para Dublin em busca de um projeto pessoal, no qual vamos descobrindo ao decorrer da narrativa. Sua vida sempre rígida, com horários determinados e contatos escassos, vira de cabeça para baixo quando um mauricinho afronta sua decisão de multa-lo por não pagar o estacionamento.
Somos a média das cinco pessoas que convivemos. ? Essas foram as palavras que ele jogou na cara dela, justificando o quanto ela era fracassada.
Em certos momentos não concordei com as atitudes de Allegra e senti como se estivesse numa bizarra situação que a história partiria para outro estilo, mas dai algo acontecia e tudo voltava aos trilhos novamente.
Não estamos lendo um romance, mas uma história de auto conhecimento. Nessa louca trajetória de Allegra, onde o mundo certo vira de cabeça para baixo, enxergamos o quanto estamos preocupados em ser alguém importante, ser social e viver uma vida rodeada de pessoas influentes, quando na verdade, o que precisamos é de pessoas que nos veem de verdade, que nos inspire, nos ouça, nos compreenda e nos ame. E isso, só se da com relacionamento, com viver e olhar o outro, se interessar pelo outro.
O mundo está cheio de aparências e maldades, e nossa perspectiva muda quando mudamos, quando passamos a olhar para nós de verdade. A vida é um constante mudar, um eterno aprendizado.
A história de Allegra me fez perceber que não precisamos ser alguém, mas precisar estar. Estar verdadeiramente conosco, com quem amamos e nos importamos.
Gostei muito do desfecho do livro, apesar que gostaria de ter tido mais romance e mais desenvolvimento no pós, mas foi sensível e tocante o final. Por vezes pensei que a autora seguiria o caminho do desenvolvimento psicologico de Allegra, sentia como se ela quisesse seguir esse caminho, mas não o fez e teria sido muito interessante também.