thagfs 10/07/2023
Uma personagem humana numa história que nos mobiliza
Talvez por ser também uma mulher negra, essa história tenha me abraçado, me divertido e me causado tantos incômodos. Porém, na reviravolta final, eu consegui pensar na minha terapeuta e em nossas sessões e em como esse livro pode ser partilhado com inúmeras outras pessoas, sendo elas negras ou não.
Queenie é rainha da vida daqueles que verdadeiramente a amam, e não tem consciência de quem é, de sua beleza e de sua importância para o mundo que a rodeia. E é essa baixo estima, seus traumas de infância e adolescência e o fato de ser uma mulher negra no mundo que fazem com que ela seja a adulta que é: cheia de feridas e sem reconhecer o seu verdadeiro valor.
Aqui de fora, nossa heroína imperfeita nos causa angústia pelas tantas relações abusivas que se permite passar, sejam elas casuais ou mais sérias. Não reconhecer a sua própria importância, afasta aqueles que merecem e aproxima aqueles que não merecem sua atenção. No entanto, a gente sabe que os verdadeiros permanecem: a família e os bons amigos.
Tom, o ex-namorado, como Darcy falou, era um cara incrivelmente básico. Não deu nada demais para Queenie e não conseguiu entender a responsabilidade que é namorar uma mulher negra e ser parceiro em todas as situações, principalmente nas dores e inseguranças. Queenie não entendeu o quanto as relações casuais a aproximavam daquilo que ela mais tinha repulsa: a fraqueza da mãe diante de uma relação abusiva.
A reviravolta da história vem de uma briga com uma das suas melhores amigas, o que, por um lado, é bom - faz com que Queenie acorde. Por outro, mostra o quanto nós mulheres ainda estamos suscetíveis a relacionamentos bosta. E, entre a amizade e o relacionamento, a amiga Cassadra decide ficar com o segundo.
A conscientização que Queenie tem para buscar ajuda a si mesma, acatando o alerta de pessoas da área da saúde, é um salto bonito da história. É sempre bom poder ver pessoas em busca do autoconhecimento, e é isto que Queenie faz. Ela não se torna uma pessoa diferente após a terapia, apenas começa a lidar com quem verdadeiramente é: seus medos, suas travas, a baixo estima, sua competência e diversas possibilidades.
Por fim, embora a gente se pergunte "mas ela só fala de homem", é importante ver que Queenie admite esse lado e que ele faz parte de sua personalidade. Talvez, a conquista para muitas mulheres hétero é não ter a vida dependente da existência de um homem ao seu lado, no entanto, se assim é nadar contra a corrente social que guia a humanidade desde a sua existência (e não é fácil).