Bia 04/04/2023É sério que esse é o livro que todo mundo elogia?Pequenos spoilers
Quando eu ouvi falar desse livro pela primeira vez ele parecia genial. Ainda gosto da ideia de uma apresentadora de TV usar programa de culinária para ensinar ciência para quem normalmente não teria tanto acesso a isso, só que de uma forma muito mais... Sutil. Mais ficção histórica e não seja lá o que eu acabei de ler.
Não tem nada de sutil nesse livro. Tudo é extremamente caricato e raso. Elizabeth é o tipo de pessoa inteligente que só funciona em desenho animado. Eu posso acreditar que Jimmy Neutron é um menino gênio, mas em um livro escrito para adultos fica mais difícil engolir que alguém que supostamente é especialista em uma área da bioquímica também sabe tudo sobre química aplicada em culinária, consegue aprender a remar lendo um livro de física e cria uma filha que é simplesmente genial em todas as áreas. Isso sem falar que a personalidade dela é extremamente clichê de cientista que não sabe como interagir com qualquer coisa que não seja ciência. Ela fala que "quase perdeu um átomo" (?) enquanto cozinhava e que água é "mais comumente conhecida como H20". Tipo, por favor...
Acho que se fosse só a protagonista eu teria aproveitado mais o livro, mas não. O par romântico também é o mesmo tipo de gênio. E a filha. E o cachorro (sim, o cachorro é super inteligente também e se comunica telepaticamente com um feto ou sei lá). As pessoas que assistem o programa também começam a usar termos científicos sem nenhuma razão ou necessidade só para a autora deixar claro que elas estão aprendendo alguma coisa. Até mesmo pessoas religiosas duvidam de suas fé porque claro, ciência e ciência precisa sempre estar brigando com religião. Tudo é escrito sem nenhuma entrelinha e depois explicado mais duas ou três vezes para ter certeza que o leitor não corre nenhum risco de fazer uma interpretação por conta própria.
Foi extremamente difícil acreditar na história. Toda vez que um tema importante aparecia era como se os personagens estivessem falando discursos ensaiados e não tendo conversas espontâneas. Situações completamente absurdas só existem e é esperado que as aceitamos. Em uma cena, Elizabeth, que trabalha há pouco tempo no programa e nunca tinha feito nada na TV antes, simplesmente deixa a plateia subir no palco e roubar partes do cenário porque ela "precisa de mais espaço". Não, ela não é demitida depois disso.
Foi mais difícil ainda acreditar que esse livro se passa nos anos 50/60. A escrita é super contemporânea, as linhas de pensamento são super contemporâneas, o programa por completo é literalmente impossível de existir na época (e hoje, esse programa nunca funcionaria, muito menos faria sucesso). Elizabeth não se involve com lutas feministas, ela só sabe magicamente todos os pontos que nos debatemos hoje, vê um comportamento sexista, fala para a pessoa que ela está tendo um comportamento sexista e é isso. Espera que toda a estrutura que a envolve mude porque ela disse e é assim que o mundo tem que funcionar. Boas mensagens empoderadoras e tudo mais, mas assim... Vazio. Completamente vazio.
Além da ciência e de discursos prontos, também tem um drama familiar envolvido que eu consegui gostar menos ainda. Elizabeth, no começo do livro, deixa extremamente claro que não quer viver na sombra do namorado famoso, que quer ter os méritos dela por conta própria. Aí chega na reta final do livro e o passado do namorado famoso se torna super importante e define o livro. O que aconteceu com não depender da associação com o Calvin para ser bem sucedida mesmo?
Bom, dito isso tudo e apesar dos pesares, eu gostei do cachorro gênio. Acho que a voz dele é a que foi mais bem narrada de todos os POVs. As estrelas são para ele, parabéns Six-Thirty (sim, o nome dele é 6:30, o horário, porque o casal de gênios não pode dar um nome normal para o cachorro, claro, eles são cientistas).