Felipe Lima 19/10/2021Sophie Kinsella hoje conseguiu atingir mais um feito especial (pelo menos para mim): Ela se juntou a uma seleta lista de autores (tornando-se a terceira para ser mais exato) dos quais eu reli obras pela segunda vez.
Confesso que assim como das outras duas vezes, eu fiquei um pouco temeroso de voltar a um livro que eu tinha lido a 7 anos atrás. Especialmente quando se trata de "Menina de Vinte" que é a minha obra favorita da autora. Ao começar a história, não consegui sentir toda aquela magia que estava impressa no meu imaginário e isso me inundou com um misto de frustração e medo. Dois capítulos se passaram e a trama, apesar de boa, ainda não alcançara as expectativas da minha memória. Então finalmente chegamos a cena do funeral e Sadie Lancaster entrou em cena. Neste exato momento, uma chave virou dentro de mim e pude ver claramente porquê este livro me é tão precioso.
Preciso apontar que não é que Lara seja uma personagem chata, muito pelo contrário, seu jeito atrapalhado de uma jovem na casa dos vinte tentando encontrar uma forma de dar a volta por cima em uma situação muito ruim (abandonada pelo namorado e pela melhor amiga/sócia da empresa), é engraçado e muito fácil de se identificar. Contudo, Sadie - o fantasma da tia-avó de Lara - é uma daquelas personagens que são tão boas, tão carismáticas que ela consegue elevar o potencial de outros personagens com quem interage.
Muito mais do que uma simples comédia romântica, "Menina de Vinte" consegue ter contornar todos clichês que são tão comuns ao gênero e entregar uma bela história que ressalta que as vezes, mesmo quando estamos no fundo do poço, ajudar alguém é a melhor forma para também nos ajudarmos. Lara e Sadie, que mesmo pertencendo a épocas tão diferentes, conseguem entender que tem muito mais em comum do que elas imaginavam. Cada uma das jovens aprendem e ensinam umas as outras sobre confiança, roupas e amor durante uma jornada que nenhuma das duas pensava querer, mas que ambas desejavam intensamente. Kinsella mostra sua maestria ao transitar entre cenas cotidianas hilárias (especialmente os diálogos entre as duas - "Ah que saudade desse cheiro de se arrumar pras festas: batom e cabelo queimado") e diálogos tão densos que revelam histórias e sentimentos mal resolvidos que tornam essas personagens cômicas e cativantes em seres humanos complexos por quem desenvolvemos grande apreço. E este é motivo de Menina de Vinte ser memorável: suas personagens (e não me refiro somente as principais, mas também a Ed, aos país de Lara e até mesmo a Kate) são humanas o suficiente para que nos importemos com suas histórias de vida, nos fazendo sofrer suas decepções e comemorar suas vitórias.