Coisas de Mineira 03/05/2022
O SANATÓRIO, SARAH PEARSE – QUANDO O PASSADO MANCHA O PRESENTE
O Sanatório foi lançado agora em 2022 pela editora Intrínseca. Livro que gerou burburinho nos grupos de Leitura Coletiva que faço parte, todo mundo estava comentando sobre essa história. Coincidentemente, terminei de ler A Montanha Mágica (Thomas Mann) pouco tempo antes de ter O Sanatório em mãos. Dessa forma, muitos conceitos a respeito desse tipo de instituição estavam bem frescos em minha mente, e não tive qualquer dificuldade para me situar na trama. Ainda mais que a trama propriamente dita é recheada de suspenses e crimes. E alguns vieses psicológicos. Não tinha como não me ganhar de cara!
“Se você revirar o passado, especialmente deste lugar, vai enlouquecer. Se desencavar os detalhes sobre o que aconteceu…”
Por que ler O Sanatório?
O Sanatório também foi uma das escolhas do Reese Witherspoon Book Club. Já ouviu falar? Seguindo então, vamos comentar um pouco sobre o que acontece nesse antigo Sanatório, que foi reformado para se tornar um resort de luxo no município Crans-Montana. Antes de tudo, você já sabia que Sanatório não é lugar de pessoas com transtornos e problemas de Saúde Mental? Muitas pessoas têm essa impressão – contudo, não é um hospício. Dessa forma, escolhi explicar primeiro que, Sanatório é um centro de saúde, um estabelecimento especializado em internamentos para pessoas que precisavam de isolamento, descanso e serem “sanados” – exemplo: pessoas com tuberculose.
Confesso que a atmosfera que envolve O Sanatório é bem aquela que me conquista. Nas primeiras páginas fiquei super interessada em descobrir os meandros do que acontecia ali, nas imediações daquela grande construção. No alto de montanhas, dos Alpes suíços, uma estrada única e de difícil acesso, florestas densas em volta, muita neve e riscos de avalanches. Realmente, esse é um local muito atípico para receber hóspedes. Entretanto, tudo que é ousado, chique e diferente, faz sucesso! Então, embora muitos problemas com moradores da região e pessoas envolvidas com questões ambientais, a dificuldade para a reforma do Sanatório foi efetiva.
Segundo o que dizem, “Você não vai querer ir embora… Até não ter mais como sair”. Ou seja, os encantos do local isolado e frio, contrastando com todo luxo e mordomia, compensam até não compensar mais. As coisas ficam sérias, e alguém ligada diretamente com Elin Warner, nossa protagonista, desaparece. Ninguém sabe onde essa pessoa está ou poderia ter ido, uma vez que a estrada está fechada por causa de avalanches. A neve está densa, o frio devastador. E investigações precisam começar a serem realizadas.
Isolados em Le Sommet
Le Sommet foi sendo evacuado, por causa dos riscos de mais avalanches, até que em determinado momento, um corpo é encontrado. Após essa descoberta aterrorizadora, menos de 50 pessoas ficam presas lá ‘em cima’, sem condições de deixar o hotel mais, por um bom tempo. A polícia ou equipe de resgate não consegue ‘subir’ para prestar socorro. E é dessa forma que poucos hóspedes, e a equipe de funcionários está por conta própria. Sem ao menos saber se ainda correm risco de mais alguém ser assassinado, machucado, torturado, etc.
É nos vendida a impressão de que se a rainha do crime, Agatha Christie, coescrevesse um livro com o rei do terror, Stephen King, seria algo assim, no ritmo de O Sanatório. E como leitora assídua e apaixonada por ambos da realeza… acredito que muitos toques ao longo do enredo de Sarah Pearse nos rememora trechos que bem poderiam ter sido escritos pelos supracitados autores de sucesso. Mas, Harlan Coben é um autor que o estilo estaria mais de acordo com as ideias plantadas pela autora nesse livro. Os plots, as confusões com lembranças do passado, as relações familiares, os dramas e traumas… Tudo isso tem um estilo bem peculiar, que Coben ama se fazer utilizar.
“O luto será sempre assim? Constrangedoramente bruto?”
Caminhando pelos mistérios do hotel
Em suma, o passado do hotel é tenebroso. E as descobertas que Elin irá fazendo na busca da pessoa desaparecida é de deixar o leitor de cabelo em pé. Bem como, um bom tanto revoltado. E nosso assassino, que munido por uma máscara de gás, continua contando os corpos a fim de mostrar seu ponto. Serão justificáveis seus motivos? Sua causa advém de uma mente insana? Compreendi e senti que o livro possui um universo muito envolvente. Você quer devorar as páginas, mesmo que ele seja um “semi-calhamaço”. A vontade é de não largar dessas páginas. Mas, no fim das contas, o final foi um pouco apressado. Sem que, com isso, tenha roubado o brilho da obra como um todo para mim.
Elin carrega seus traumas desde o início da adolescência. Seguiu a carreira policial, pois acredita que sempre está em busca de respostas, e assim, esse seria o melhor caminho a seguir. Tem dificuldades de relacionamento com seu irmão, Isaac. Todavia, é por causa dele que ela se arrasta até a Suíça. Mesmo sofrendo de algo perto de um Transtorno de Estresse Pós Traumático, com crises de pânico. E um afastamento de sua carreira policial, onde ela ainda não decidiu se irá voltar a exercer. Nossa investigadora dos mistérios do hotel é alguém bastante quebrada, imperfeita, cheia de dúvidas e questões. Ela duvida de várias coisas, não acredita em muitas pessoas, e está sempre com o “pé atrás”.
Por: Carol Nery
Site: www.coisasdemineira.com/2022/04/o-sanatorio-sarah-pearse-resenha/