GG 07/04/2023
As Cláudias
Um drama familiar que toca em feridas e temas difíceis. É tudo muito freudiano.
Mãe e filha se chamam Cláudia e a Cláudia mãe se sentia uma filha indesejada, tinha uma mãe ausente e era negligenciada sobretudo emocionalmente. Casou-se com Jorge, um homem 20 anos mais velho e teve uma única menina, a quem deu seu nome.
Cláudia mãe era frustrada, ociosa, fútil e cheia de teorias com relação a morte de famosos e conhecidos, que ela considerava terem sido suicídios. Se foram ou não, nunca saberemos, pois a história é contada da perspectiva de Cláudia filha a partir de suas interações com a mãe.
A filha, com 8 ou 9 anos, entendia como podia o que via e vivia: um pai que trabalhava muito e dedicava um tempo semanal a ela, a convivência com a tia e a presença da ausência de sua mãe, que, como ela mesma pontua, só quer saber de suas revistas e de sua cama.
Cláudia mãe disse certa vez: "- Ai, Cláudia, eu não sou como a minha mãe." A maternidade não é fácil e repetir com nossos filhos o modo como nossa mãe nos criou pode trazer angústia ou alegria. Cláudia mãe, ao nomear a filha com seu nome, trouxe a ela destino parecido com seu passado: ela se sentia feia, indesejada, invisível, diante do abismo. A noção de Cláudia filha sobre tudo o que a rodeia e como ela absorvia as relações familiares trazem uma melancolia resignada.
Desde que li A cachorra, adorei a escrita da Pilar, ela fala comigo, os temas me tocam. Maternidade, culpa, relações familiares, solidão estão presentes nos dois livros que li e me parece que ela ainda tem mais coisas a dizer sobre isso.