Bela Calli 27/05/2022
Em "Minha Vida de Ministra", logo no início da leitura, nos deparamos com o discurso da nova Ministra da Educação, uma "mulher, negra, gorda e com vitiligo": Maria Valentina Moyo Hernandez, nossa protagonista, que assumiu o cargo com o intuito de revolucionar a educação.
As ideias da Maria Valentina para transformar o ensino básico são considerados, por muitos, como "utópicas" — inclusive no próprio livro — mas ideais para a melhoria do nosso ensino. Seu plano de mudança conta com uma quarta revisão da BNCC para incluir, como disciplinas obrigatórias, educação sexual e emocional; inteligência financeira; além de incentivar a criatividade e o conhecimento empírico; valorizar a história do Brasil e das comunidades como LGBTQIA+ e PcD. E claro: reformular também os métodos de avaliação e o vestibular.
Essa ânsia de mudanças é devido às próprias experiências; Maria Valentina lutou e batalhou para que jovens não precisassem passar pelas mesmas dificuldades que ela durante a adolescência e, movida por uma motivação muito bonita, encantou todos ao seu redor.
Eu mesma, como estudante da área de educação, vejo como é incentivado, na formação do professor, as tais práticas que Maria Valentina propõe. No entanto, "é muito mais cômodo para o governo que a população seja o mais "ignorante" possível, afinal, dessa forma, a manipulação se tornará algo muito mais simples". Essa frase infelizmente é verdade. Não falta ideias, não falta mentes brilhantes e revolucionárias... O que falta é a vontade da parte dos governantes para colocá-las em prática. E é justamente para isso que Valentina está ali no cargo: para mudar isso!
Acompanhamos também Henrique, o Secretário Executivo do Ministério da Educação, que rapidamente se encantou pelos ideais da nova ministra. Mais do que isso, ele se apaixonou pela mulher forte que ela é... pela sua coragem e perseverança. É um personagem carinhoso e amoroso que está disposto a ajudá-la no que for preciso. E isso certamente traz um quentinho no coração.
Com os mesmos gostos e uma química inegável, eles se veem submersos num sentimento nunca sentido — por nenhum deles—, e rapidamente engatam numa relação de amizade e romance que, com o tempo, se torna cada vez maior.
Quanto à narrativa, ela abraça o ponto de vista de ambos os personagens, sempre recapitulando brevemente a cena anterior para dar um gostinho dos sentimentos e pensamentos da forma mais completa possível, entrando, dessa forma, no íntimo do personagem. A autora também se atenta aos detalhes cotidianos das personagens, suas relações e interações. E essa ideia de proximidade é curiosa, afinal, o título e o tema dão impressão de formalidade, mas Maria Valentina se prova um cidadã comum, que gosta de livros e de cantar as músicas da playlist (e políticos também beijam!)
Certamente, é uma obra que traz questionamentos muito válidos e importantes para a sociedade, mas vai além disso! A autora traz mensagens de superação, autoestima e esperança! Além de uma mensagem de amor.
E confesso que me surpreendi quando vi, nas páginas finais do livro, que Manu ainda está no Ensino Médio (estava crente que fazia letras também!). Fiquei muito feliz ❤️ É bom ver que os adolescentes se preocupam cada dia mais com nossa sociedade e cenário político. Afinal, eles são o futuro, certo?