Coisas de Mineira 26/07/2022
FIM DE JOGO – DANIEL COLE; ACABOU-SE A TRILOGIA?
“Fim de Jogo” (Endgame) é o terceiro e último livro da trilogia de Daniel Cole, iniciado com Boneco de Pano, passando por Marionete. Chegamos em fim, ao livro que nos contará o que aconteceu e o que acontecerá com “Wolf”. Desde Boneco de Pano, aqueles familiarizados ao gênero thriller policial, estão contando os dias para os três livros estarem concluídos. Cole conseguiu, mesmo com sua pouca familiaridade com o mundo literário (isso no primeiro livro), prender a atenção, curiosidade, e sentimentos do leitor.
Fim de Jogo – onde as peças irão todas se encaixar
Aqui em “Fim de Jogo”, as personagens buscam se recuperar de tudo que ocorreu em “Marionete”. Não que isso seja completamente possível. William ‘Wolf’ Fawkes está bastante encrencado, e não conseguimos imaginar o que será preciso para que seus problemas sejam de fato resolvidos. Na verdade, não dá pra saber nem se é possível haver solução para tudo isso. Todavia, da mesma forma, Wolf se dirige até a casa de Finlay Shaw, seu antigo mentor e amigo.
Ele faz isso pela esposa de Shaw, Maggie. Wolf era muito amigo do casal, e não imaginou forma de continuar a viver sua vida, se não fosse até a casa de Finlay antes. Acontece que, Shaw foi encontrado morto, com um tiro, em um quarto que estava preparando para seus netos. O quarto estava vazio por dentro, e trancado. O que levou à teoria de que Finlay Shaw havia cometido suicídio. Todavia, Wolf sabe que isso não é verdade. Ele não descansará até chegar ao fim dessa história.
Como Wolf é procurado pela polícia, assim que o seu destino é conhecido, seus ‘colegas’ de trabalho chegam para algemá-lo e direcioná-lo para a carceragem. Preso em uma cela, Wolf recebe ilustríssimas visita. Geena Vanita (que fará qualquer acordo para ‘subir’ na carreira) e o Comissário Christian Bellamy (melhor amigo de Finlay). A proposta que o recém-enjaulado faz a eles é: deixá-lo livre enquanto investiga a morte de Finlay. Para Vanita, isso está fora de cogitação. Mas o comissário é mais conivente com a ideia…
“Você é muito babaca, Wolf – disse Baxter.”
Amigos de longa data
Christian Bellamy e Finlay Shaw foram parceiros desde os anos 70. Primeiro na Escócia, depois em Londres. E em “Fim de Jogo” poderemos conhecer um pouco dessa parceria com os capítulos que narram flashes dos feitos dos policiais nos anos passados. Isso vem contrabalancear a história, para que entendamos melhor a amizade dos dois, e a importância de Bellamy na vida de Maggie. A esposa de Finlay é muito querida e respeitada por Wolf e Emily Baxter. E eles topam tudo para descobrir o que aconteceu naquele quarto selado.
Na verdade, Wolf não foi recebido com pétalas de rosas, ou fogos de artifício. A equipe está chateada. E quem vem provar esse fato é Baxter. Ela está extremamente irritada com o antigo amigo. Mal consegue olhar no roso de Wolf. Preciso salientar que Baxter tem muito no que pensar… Ela tem um namorado que parece amá-la demais, e uma pessoa procurada pela justiça em seu antigo apartamento – pessoa essa que está praticamente apodrecendo em vida. Ou seja, Wolf não pode ser uma prioridade. Não agora.
“O Finlay não faria isso.”
Wolf jamais desistiria. Ou seria o “Fim de Jogo”?
Pois bem, acontece que para todos, o caso de Finlay deveria ser encerrado. Apenas Wolf não consegue engolir essa história de suicídio. Ele sabe que o amigo jamais faria isso. Ele não se permitiria deixar Maggie. Então, além de tudo, Wolf precisa conversar a própria equipe que vai trabalhar consigo, que essa hipótese de suicídio é furada. E dessa forma, é preciso descobrir quem matou Finlay. Contudo, a pior parte é: porque esse alguém matou Finlay. Que Wolf é perturbado, ninguém nunca duvidou. No entanto, o quanto ele pode estar enganado neste determinado assunto?
“Fim de Jogo” continua com o mesmo estilo de escrita que Cole nos mostra nos dois primeiros livros. Ele tem uma leveza nas palavras, e um senso de humor icônico. E isso ajuda muito nos momentos onde a história está mais tensa. Iremos então lidar com os personagens que conseguiram sobreviver a Boneco de Pano e a Marionete. É bom, confesso, rever alguns deles. Como Edmunds. Adoro esse cara! Ele é muito mais inteligente e capaz do que o espaço que ele tem para atuar.
Correndo paralelamente à história do suicídio/assassinato, vem o contraponto chamado Emily Baxter e William ‘Wolf’ Fawkes. São amigos e companheiros de longa data. Seus relacionamentos pessoais sempre gravitaram em torno dessa parceria. Então, é muito estranho agora Wolf estar de volta, do nada, depois de tanto tempo sem dar qualquer notícia de vida para Baxter. E ela não o perdoa por isso. Está muito indignada e não consegue disfarçar.
“Edmunds jogou o pacote de fraldas nos braços dela e saiu correndo.”
Diferente do que vinha acontecendo…
Preciso alertar ao leitor que, se você espera aquele banho de sangue e carnificina visto nos dois primeiros livros, você irá se decepcionar. Pode diminuir a expectativa desde já. Essa trama gira em torno disso que falei até gora. Ou seja, a história fica bem mais pessoal. Bem mais próxima. E você vai sentir junto com essas personagens que já estamos há anos lidando com elas. Todavia, por mais que desde o começo eu soubesse que esse trabalho de Cole era uma trilogia, me senti bastante nostálgica – como geralmente me sinto ao finalizar uma série.
Mas, uma boa notícia para os fãs do autor, ou até mesmo, fãs de Baxter e Wolf. Antes de iniciarmos “Fim de Jogo”, Daniel Cole conta que: “Este não é o fim de Boneco de Pano, nem de longe. Eu sempre quis que esses três primeiros títulos fossem sobre uma equipe específica em um momento específico. Eles se sobrepõem. Suas histórias se entrelaçam. São uma trilogia. Mas, não é assim que a vida real funciona – a vida dá voltas e vai afrouxando todo e qualquer nó minúsculo que a gente tenha feito. Já tenho o esqueleto do quarto livro (…).”
“LIBERTEM O LOBO! Outra vez!”
Em suma, essa é mais uma história frenética, onde a todo tempo algo novo está acontecendo. Você não pode se esquecer dos fatos dos dois primeiros livros, porque tudo está entrelaçado, e personagens ficam navegando, flutuando entre as histórias. Tudo muito bem amarradinho pelo autor. Essa é uma linda edição, com a capa inspirada na capa gringa, onde descobrimos o porquê do subtítulo “O círculo se fecha”. Com suas 304 páginas, você terá entretenimento garantido. Tudo em papel pólen e uma diagramação muito confortável, embora bastante simples.
“Não sou nenhum herói…
Eu mataria até o último ser vivo na face da Terra para salvar você.”
Por: Carol Nery
Site: www.coisasdemineira.com/2022/07/fim-de-jogo-daniel-cole-resenha