Rute31 02/08/2022
"Procuro Matilde, a filha de João Maria"
É assim que começa a história de Matilde Belo, filha de João Maria Souza, um sobrenome que, como ela diz, lhe cai bem.
Matilde é tradutora, tem 30 e poucos anos, uma mãe com alzheimer, a Beatriz, e um namorado, o Abel. E um dia recebe uma ligação, é um advogado e ele fala rápido, fala um idioma que ela conhece, mas não entende, os sons que se atropelam, até que ela escuta: ele está falando português, e fala de seu pai, João Maria.
Mas Matilde nunca teve pai. Isto é, ela teve um pai, mas nunca o conheceu, então nunca teve. O pai deixou um testamento, cuja exigência principal de leitura é que "toda a gente" dele esteja presente. Isso inclui Matilde.
Então ela pega um avião e atravessa o oceano, frágil que está, com medo, nervosa. E numa cidadezinha com uma muralha em torno, ela vai em busca de entender suas origens, conhecer o estranho morto que é seu pai e assim, se encontrar.
Eu gosto muito desses temas da busca pela origem na literatura, e dessa perspectiva (uma mulher, contemporânea, com a saúde mental abalada) achei ainda mais interessante.
Marcela tem uma narrativa envolvente, mesmo quando sua personagem está em crise, e deixa que Matilde conte uma história que também entendemos através do que ela não diz.